Carta aberta da Paróquia São João Batista sobre a crise siderúrgica em Açailândia
Mais uma vez o pesadelo das demissões em massa invade a cidade de Açailândia.
Em 2008, sob o pretexto da crise econômica global, as empresas siderúrgicas locais despediram centenas de trabalhadores.
Naquela época, o Sindicato dos Metalúrgicos denunciou que, apesar disso, os que detinham altos cargos de administração continuavam recebendo salários pelo menos dez vezes maiores que os dos poucos trabalhadores ainda em serviço.
A Paróquia São João criticava a forte dependência econômica açailandense dos interesses das siderúrgicas e da Vale:
«O crescimento econômico desordenado e sem planejamento de Açailândia deve-se a políticas irresponsáveis de financiamentos para grandes empreendimentos e proprietários, além da “economia do saque” que ao longo dos anos sugou os recursos locais gerando poucas oportunidades e favorecendo uma minoria que só tem acumulado (veja-se o ciclo das madeireiras, das serrarias, da pecuária, das mineradoras, das guseiras)».
De 2008 até hoje os empreendedores ficaram esperando o milagre da retomada do mercado.
Mas o mercado tem regras cruéis, que a mineradora Vale nunca deixará de aplicar.
A Vale não tem interesse em respeitar e promover os direitos do povo e do meio ambiente. Nos últimos seis meses, aumentou em 171% o preço do minério de ferro e já está lucrando muito dinheiro com as vendas para China.
Por isso as empresas siderúrgicas estão agora reduzindo cada vez mais as suas atividades.
Centenas de famílias estão sendo prejudicadas pela violência dessas demissões.
Frente a essa situação, a Paróquia São João Batista, em nome do Evangelho e do povo, denuncia:
- as siderúrgicas e a Vale sugam energias e recursos de trabalhadores e do meio ambiente enquanto tudo isso dê dinheiro. Quando, porém, os níveis do lucro começam a minguar, tudo é abandonado a seu próprio destino.
- a Vale controla e estrangula as economias de nossas regiões com um monopólio irresponsável
- as siderúrgicas eximem-se de suas responsabilidades, querendo aparecer como vítimas da Vale, quando por décadas lucraram às custas dos trabalhadores e do meio ambiente (em muitos casos sem investir em tecnologia, profissionalização e diminuição do impacto ambiental)
- os poderes executivo e legislativo locais nada fizeram para evitar esse jogo de demitir e recontratar trabalhadores conforme os interesses imediatos das empresas. A resposta da política não pode ser mais uma vez a concessão de verbas públicas (dinheiro nosso!) para “salvar” o funcionamento das empresas. O povo não deve pagar essa conta! Suas prioridades são outras: saúde, moradia, educação...
e propõe:
- uma negociação imediata entre a Vale, as guseiras, o poder público, o setor sindical e outros representantes da sociedade civil visando a garantia de emprego em nossa cidade
- a reconstituição do Fundo de Desenvolvimento regional, a partir de uma parcela fixa do lucro anual da Vale, que poderá ser usado para manter o equilíbrio em tempos de crise
- um plano de desenvolvimento participativo que preveja geração de renda diversificada e políticas de apoio à pequena empresa e à agricultura familiar, proteção e recuperação ambiental, respeito aos trabalhadores e às vítimas da poluição
- uma auditoria qualificada por parte do Ministério Público e do Trabalho nos balanços comerciais de todas aquelas siderúrgicas que estão fechando ou querendo fechar, para averiguar a veracidade de quanto vêm afirmando para embasar suas políticas de demissão sumária
Vamos transformar o pesadelo em sonho, para uma cidade mais justa, limpa e sustentável, cheia de oportunidades para todos!
Nessun commento:
Posta un commento