Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
E-mail: padredario@gmail.com; Twitter:
@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

venerdì 25 marzo 2016

Nossa Páscoa nas ruas


O tempo de Páscoa leva o povo cristão às ruas, pelo menos três vezes: na Procissão de Ramos, na Via Sacra de sexta-feira santa e no fogo abençoado, na praça de nossas igrejas, antes de entrar na longa e bonita celebração do sábado de aleluia.

Celebrando junto a nossas comunidades, contemplo esse povo a caminho e não deixo de pensar às ruas tomadas pelos protestos, nos dias mais frágeis da história recente do Brasil.
Não podemos separar nosso ser religioso e nosso ser político. Papa Francisco afirma: “Ninguém pode exigir-nos que releguemos a religião para a intimidade secreta das pessoas, sem qualquer influência na vida social e nacional, sem nos preocupar com a saúde das instituições da sociedade civil, sem nos pronunciar sobre os acontecimentos que interes­sam aos cidadãos” (EG 183).

Caminhando no domingo de Ramos sonhávamos uma cidade nova, uma Jerusalém sem guerras, armaduras e cavalos, uma cidade inclusiva e acessível para todas e todos, aberta aos pobres, que ainda andam de jumentinho, como Jesus...

Na Via Sacra, uma multidão seguindo Jesus condenado a morte. Em nossa procissão escolheram um Jesus jovem e negro. É instintivo, para nossas comunidades de periferia, identificar-se naquele homem machucado pelos militares romanos.
Fizemos questão de iniciar a caminhada saindo da comunidade de Piquiá de Baixo, conhecida no Brasil como a Cubatão da Amazônia, pela poluição siderúrgica e do escoamento do minério de ferro. Sangue e poeira, fumaça e barulho foram a moldura de nossa oração.

Na noite de sábado faremos um círculo ao redor do fogo. “Faz escuro, mas eu canto”, repetiremos juntos, cada um com sua vela na mão. É o jeito religioso de afirmar que a saída está na participação, na inclusão dos pequenos, nas comunidades organizadas a caminho.

A ressurreição é como uma semente, precisa de cuidado, teimosia e esperança para brotar. Não chega por atalhos, não se afirma por imposição de interesses, não se alimenta de manipulações midiáticas. É lenta e invisível, porque profunda.
Pouco se parece às tentativas de golpe em curso nesses dias. Mas muito pode avançar se as pedras da corrupção e os espinhos do poder não a sufocarem.
A ressurreição de um País só dará frutos se plantada na terra boa dos pobres.

Espero encontrar-me com muitos deles, outras e outras vezes, em nossas Páscoas nas ruas.