Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
E-mail: padredario@gmail.com; Twitter:
@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

mercoledì 9 settembre 2020

Dona Nenzinha, rueira e rezeira

Uma das primeiras lições que aprendi da fé popular, ao chegar ao Brasil, foi que os cristãos devem ser “rueiros e rezeiros”.
Homens e mulheres de oração, sim, mas também com o pé na estrada, em visita, sempre a caminho rumo aos outros.

Muitos anos depois, conheci dona Nenzinha, ministra da Eucaristia da comunidade São José de Piquiá de Baixo.
Vivia ao lado de seu Pedro, seu marido. Os dois quase sempre na varanda fora de casa, deixando a vida acontecer, na pracinha e na quadra de futebol, logo à sua frente...
O ritual da visita, toda vez que descíamos no bairro, era um copo de água fresca e algumas palavras sobre as últimas novidades, a poluição que não cessa, a tosse e o cansaço que ofuscavam as esperanças desse casal de idosos.

Rezeira, todo domingo dona Nenzinha abria a igrejinha bem antes da missa; cuidava do altar, dos panos e toalhas, incrivelmente limpos naqueles espaços de fumaça e poeira. Seus gestos, assim como sua dignidade, eram silenciosos, reservados. Mas falavam alto: Deus e nossas famílias merecem bem mais que esta poluição!

Rueira, não perdia ocasião para visitar as pessoas idosas ou doentes, que não tinham como ir à igreja: levava-lhes um sopro de Deus. Era mulher de muito fôlego, não parava nunca, tinha respiro e esperança de sobra para partilhar!

Como muitas famílias, Nenzinha e Pedro não aguentaram viver na nuvem de fumaça e saíram do Piquiá de Baixo. Mudar de bairro não foi mudar de vida: sua devoção a São José, protetor e providente, encontrou São Miguel, na comunidade cristã de Plano da Serra.  De longe, junto ao anjo do combate contra as forças do mal, continuava torcendo pelas famílias amigas, deixadas no Piquiá.

Nestes últimos dias, dobrou e arrumou sua vida como fazia com aqueles panos do altar.
Carregou-a, como uma oferenda leve, bordada e engomada, até as mãos de Deus.
Imagino que foi até Ele caminhando, devagar, como sempre. Como mais uma visita a ser feita, como uma procissão; como se dependesse dela, hoje, abrir cedo as portas do Paraíso, do jeito que abria as portas da igrejinha de Piquiá.

Dona Nenzinha, reze por nós: um dia chegaremos juntos, mas queremos levar até a senhora muitas outras histórias de solidariedade, de resistência e de Conquista!
E leve nosso abraço ao seu Edvard...

sabato 11 aprile 2020

No Sábado Santo, a Páscoa, pelas mulheres

Nesta noite proclamaremos a Páscoa, mas na verdade continuaremos como num longo Sábado Santo.

Em tempos de pandemia, estamos todos e todas em silêncio, à espera: num certo clima de medo, pelo que poderá acontecer aqui no Brasil; numa atitude de esperança ativa, para evitar que o mal se espalhe rápido demais.
É também o Sábado Santo de tantas situações de fragilidade, não só pelo vírus. Tantas pessoas e comunidades que se encontram entre a morte e a promessa de vida.
A Páscoa acontece aqui, desde dentro das longas noites de Sábado Santo.

O Evangelho destaca que a Páscoa chega a todos através das mulheres.
São elas que permanecem de pé perto da cruz.
Não desanimam, não se deixam apavorar pelos soldados. Lembram-nos as Madres de Plaza de Mayo, que desde 1977 descem na praça toda semana, em memória dos filhos mortos pela Ditadura.
Ou as mulheres indígenas, que todo mês de abril descem a Brasília junto a seus guerreiros, para reivindicar terra e direitos. Ou a marcha das Margaridas, das mulheres camponesas, todo dia 12 de agosto.

São elas que vigiam preparando perfumes.
Não deixam a noite vencer, cuidam dos corpos feridos, da Mãe Terra violentada. Lembram-nos as mulheres e homens profissionais de saúde, que no mundo todo estão se doando por inteiro na luta contra o vírus. Também nos lembram nossas mães...

São elas que tomam a iniciativa, mesmo tendo o obstáculo da pedra.
Não se bloqueiam frente à dificuldade. Sabem “primerear”, inventam sempre passos novos. Lembram-nos as mulheres de nossas comunidades cristãs, mesmo quando oprimidas pelo peso de uma Igreja machista e clericalista.
Recordamos a iniciativa e o protagonismo das mulheres no Sínodo da Amazônia, rezamos hoje para que se abram, para elas, os caminhos do diaconato e do ministério instituído de coordenadoras de comunidade.

Não será uma Páscoa estrondosa, teremos que reconhecer a Ressurreição nestes pequenos sinais. As mulheres sugerem que procuremos Jesus ressuscitado lá na periferia, onde tudo começou, na Galileia...

mercoledì 12 febbraio 2020

De coração aberto e a plenos pulmões


Recebemos a Exortação Apostólica Querida Amazônia de coração aberto e a plenos pulmões.
Sínodo significa "caminhar juntos": é um percurso que vem de longe, iniciado há pelo menos dois anos, escutando milhares de pessoas e comunidades, até convergirmos no Documento Final. O Papa pede que nos comprometamos a lê-lo e aplicá-lo na íntegra.
Este caminho ainda precisa ir longe, porque as pistas que se abrem são audaciosas e de profunda mudança, conversão integral.

Caminhamos com as pernas e a paixão dos mártires: não é por acaso que o documento foi entregue hoje, 12 de fevereiro, quinze anos após o assassinato da defensora da floresta ir. Dorothy Stang.
Papa Francisco escreve não para substituir o documento final, mas oferecendo uma reflexão, uma síntese, quase para nosso coração bater mais forte. Resgata poesia e sonho, bebe à fonte das culturas amazônicas. Beleza e poesia salvarão o mundo!

Uma caminhada bem sinalizada
Com insistência indignada, um ponto fixo que orienta o caminho é a denúncia do modelo predatório e neocolonial que está saqueando a Amazônia. O Papa sabe que esse modelo é hábil em se disfarçar, a ponto de enganar ou seduzir às vezes até alguns membros da Igreja. É preciso clareza e determinação para rejeitá-lo, recuperar e proteger a inspiração e o protagonismo dos povos originais, seus planos de vida, a sabedoria do Bem Viver, a voz forte dos últimos, os direitos e as propostas dos pequenos...

O caminho do Sínodo está entrelaçado com o da Economia de Francisco e Clara (encontro em Assis, em março), com o Pacto Educativo Global convocado pelo Papa em maio, com os muitos grupos que em diferentes partes do mundo, a partir de outubro passado, estão assinando e contextualizando o Pacto das Catacumbas para a Casa Comum.
No Brasil, em exatamente um mês, a REPAM e uma rede de muitas outras organizações lançarão a campanha "A vida por um fio", em defesa de comunidades e líderes ameaçados na defesa de seus territórios.
A rede latino-americana Iglesias y Minería está promovendo a campanha de desinvestimento da mineração, como um passo concreto para as comunidades religiosas se distanciarem da economia predatória.

Ainda faltam alguns companheiros-as
O Sínodo abriu um longo processo, em busca de um maior protagonismo das mulheres na Igreja, mas ainda temos muito a avançar. A Exortação Apostólica oferece algumas propostas, a partir das quais é necessário dar um passo com coragem. Por exemplo, os bispos podem instituir ministérios que garantam autoridade, reconhecimento público e real incidência de mulheres na liderança de comunidades e na Igreja diocesana.
A iniciativa de ordenar padres homens reconhecidos pelas comunidades cristãs em regiões isoladas da Amazônia, mesmo com uma família constituída e estável, permanece como uma decisão da assembléia sinodal, incluída no documento final. O Papa não a retoma, destaca outros pontos da vida, mas ao mesmo tempo indica que a presença pastoral precária exige uma resposta corajosa da Igreja e a identificação de "ministros que possam compreender a partir de dentro a sensibilidade e as culturas
amazónicas". O advérbio de lugar que destaquei é importante.
Toda a Exortação é baseada no pressuposto de uma Igreja encarnada e inculturada, que não pode depender de ministros que lideram, administram e celebram vindo desde fora.
A palavra e a iniciativa, portanto, passam às igrejas locais, para que elas pensem, organizem e proponham ao Papa caminhos viáveis, contextuais, respeitosos e corajosos.
"Não cortemos as asas ao Espírito Santo"!

giovedì 2 gennaio 2020

Memória de 2019 - nossos vídeos mensais

Também durante 2019, todos os meses os Missionários Combonianos ofereceram um breve vídeo (5') de reflexão e aprofundamento sobre a fé, a caminhada pastoral e a situação do Brasil.
Neste ano, demos destaque particular ao Sínodo da Amazônia e ao compromisso da Igreja pela ecologia integral.
Para facilitar, oferecemos aqui a coleção completa, que está guardada no Canal Youtube dos combonianos.
Que seja um 2020 vivido com paixão missionária, na promoção da paz e da justiça!

Dezembro - Natal: em Jesus, Deus nasce na história e culturas

Novembro - Como viver o Sínodo, apesar das fake news na rede

Outubro - Sínodo da Amazônia, Igreja profética com esperança

Setembro - Sínodo da Amazônia, o clamor da terra e dos pobres

Agosto - A Igreja e o futuro da Amazônia e do Brasil

Julho - Por que o pe. Ezequiel Ramin no Sínodo da Amazônia?

Maio - Bolsonaro e o ato de consagração do Brasil a Nossa Senhora

Abril - Oração pela Igreja: pés no chão, coração com os pobres

Março - Quaresma: o que Deus espera? Amor e mudança de vida

Fevereiro - Mudanças climáticas: terra, natureza e vida humana

Janeiro - Paz: direito ou dever?