Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
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@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

sabato 20 agosto 2016

Como escolher um bispo?



Muitas vezes a presença de um padre numa paróquia ou de um bispo numa diocese faz a diferença. Mas não deveria ser radicalmente assim.
Acontece que a chegada de uma nova pessoa à frente dessas instituições acaba mudando repentinamente o estilo, as prioridades e a linha pastoral das mesmas. Passando por cima, às vezes, daquilo que o povo de Deus pensa e pratica há tempo e evitando dinâmicas respeitosas de diálogo, escuta e discernimento comunitário.
Por isso a profecia é sempre sofrida e demora tempo para ser reconhecida: não pode se impor por autoridade, precisa contagiar os outros pelo testemunho e a fidelidade persistente de uma proposta evangélica.

A escolha dos bispos indicados “desde fora” e “desde cima” pode alimentar essa dinâmica de descontinuidade, que de certa forma desvaloriza a maturidade das comunidades cristãs.
A primeira carta a Timóteo (4,14) testemunha que no começo da Igreja era a assembleia dos presbíteros que “fazia dom” aos bispos, pela imposição das mãos, de sua missão profética.
A Didaché (15,1), coletânea de instruções e costumes da Igreja do primeiro século, explica que bispos e diáconos eram eleitos e seu ministério era considerado ao mesmo nível de profetas e doutores.
Foi a partir do IV século que os imperadores de Constantinopla começaram a impor como bispos pessoas de sua preferência, na clara intenção de controlar o povo também através da aliança de poder com a Igreja. Nos séculos seguintes confirmou-se em diversas situações a indicação dos bispos por parte de soberanos e imperadores; em reação, os Pontífices centralizaram a nomeação desses pastores, defendendo e afirmando assim sua dependência direta de Roma.
A partir daí, a história parece ter-se congelado com respeito ao princípio que orienta o processo de escolha dos bispos, até os dias de hoje. Por isso, também o cardeal Martini afirmava que “a atual maneira de eleger os bispos deve ser melhorada”.

Enquanto escrevo, minha diocese está sem bispo, aguardando nomeação. É inegável um sentimento de preocupação: será que poderemos continuar na linha que assumimos nos últimos anos, em que nos reconhecemos? Afinal, quem chegar o que pensará, de onde virá e com que critérios será escolhido? 

Para quem acredita na ministerialidade, na participação de leigas e leigos e no protagonismo das mulheres na Igreja, faz sentido buscar outras maneiras de indicar o bispo de uma diocese.
Por exemplo, poderia se constituir um conselho diocesano eletivo, composto por uma proporção equilibrada de homens e mulheres, com representação de padres, ministros e ministras, coordenadores e coordenadoras de pastorais e comunidades, que possa sugerir à assembleia dos bispos três pessoas (dentro ou fora da diocese) que considere aptas para assumir a continuidade do serviço episcopal em nossa igreja local.
Esse processo deveria ser antecipado de uma consulta a todas as comunidades sobre quais foram as melhores qualidades e intuições da igreja diocesana no tempo do bispo anterior, quais os limites e falhas da caminhada e, portanto, qual o perfil da pessoa que poderia assumir a coordenação de uma nova etapa pastoral.

Nesse sentido, a escolha de um bispo seria muito mais vinculada às necessidades pastorais específicas de uma igreja local. Não teria um caráter ontológico, permanente. Uma pessoa se colocaria a serviço da coordenação de uma diocese com a possibilidade, depois de alguns anos e de uma avaliação pessoal e comunitária da experiência, de continuar ou deixar espaço a outra pessoa. Inclusive voltando, sem nenhum sentimento de “minoração”, a servir o povo de Deus numa paróquia ou numa pastoral específica.

Esse método reduz a organização centralizada das hierarquias da Igreja e talvez pode provocar conflitos em nível de cada diocese (ou melhor, evidenciar conflitos latentes e visões diferentes de Igreja e pastoral). Mas com certeza é mais transparente e aberto do atual sistema de escolha dos bispos e pode garantir um maior sentimento de participação e vínculo das comunidades junto às hierarquias da Igreja.
Como todas as propostas, poderia ser experimentada por um certo período de tempo em algumas dioceses e submetida à avaliação da Igreja.
É uma tentativa para permitir ao Espirito Santo circular de forma mais horizontal no meio do povo de Deus.