Muitas vezes a presença de um padre numa paróquia
ou de um bispo numa diocese faz a diferença. Mas não deveria ser radicalmente
assim.
Acontece que a chegada de uma nova pessoa à frente
dessas instituições acaba mudando repentinamente o estilo, as prioridades e a
linha pastoral das mesmas. Passando por cima, às vezes, daquilo que o povo de
Deus pensa e pratica há tempo e evitando dinâmicas respeitosas de diálogo,
escuta e discernimento comunitário.
Por isso a profecia é sempre sofrida e demora tempo
para ser reconhecida: não pode se impor por autoridade, precisa contagiar os
outros pelo testemunho e a fidelidade persistente de uma proposta evangélica.
A escolha dos bispos indicados “desde fora” e
“desde cima” pode alimentar essa dinâmica de descontinuidade, que de certa
forma desvaloriza a maturidade das comunidades cristãs.
A primeira carta a Timóteo (4,14) testemunha que no
começo da Igreja era a assembleia dos presbíteros que “fazia dom” aos bispos,
pela imposição das mãos, de sua missão profética.
A Didaché (15,1), coletânea de instruções e
costumes da Igreja do primeiro século, explica que bispos e diáconos eram eleitos
e seu ministério era considerado ao mesmo nível de profetas e doutores.
Foi a partir do IV século que os imperadores de Constantinopla
começaram a impor como bispos pessoas de sua preferência, na clara intenção de
controlar o povo também através da aliança de poder com a Igreja. Nos séculos
seguintes confirmou-se em diversas situações a indicação dos bispos por parte
de soberanos e imperadores; em reação, os Pontífices centralizaram a nomeação
desses pastores, defendendo e afirmando assim sua dependência direta de Roma.
A partir daí, a história parece ter-se congelado
com respeito ao princípio que orienta o processo de escolha dos bispos, até os
dias de hoje. Por isso, também o cardeal Martini afirmava que “a atual maneira
de eleger os bispos deve ser melhorada”.
Enquanto escrevo, minha diocese está sem bispo,
aguardando nomeação. É inegável um sentimento de preocupação: será que
poderemos continuar na linha que assumimos nos últimos anos, em que nos
reconhecemos? Afinal, quem chegar o que pensará, de onde virá e com que
critérios será escolhido?
Para quem acredita na ministerialidade, na
participação de leigas e leigos e no protagonismo das mulheres na Igreja, faz
sentido buscar outras maneiras de indicar o bispo de uma diocese.
Por exemplo, poderia se constituir um conselho
diocesano eletivo, composto por uma proporção equilibrada de homens e mulheres,
com representação de padres, ministros e ministras, coordenadores e
coordenadoras de pastorais e comunidades, que possa sugerir à assembleia dos
bispos três pessoas (dentro ou fora da diocese) que considere aptas para
assumir a continuidade do serviço episcopal em nossa igreja local.
Esse processo deveria ser antecipado de uma
consulta a todas as comunidades sobre quais foram as melhores qualidades e
intuições da igreja diocesana no tempo do bispo anterior, quais os limites e
falhas da caminhada e, portanto, qual o perfil da pessoa que poderia assumir a
coordenação de uma nova etapa pastoral.
Nesse sentido, a escolha de um bispo seria muito
mais vinculada às necessidades pastorais específicas de uma igreja local. Não
teria um caráter ontológico, permanente. Uma pessoa se colocaria a serviço da
coordenação de uma diocese com a possibilidade, depois de alguns anos e de uma
avaliação pessoal e comunitária da experiência, de continuar ou deixar espaço a
outra pessoa. Inclusive voltando, sem nenhum sentimento de “minoração”, a
servir o povo de Deus numa paróquia ou numa pastoral específica.
Esse método reduz a organização centralizada das
hierarquias da Igreja e talvez pode provocar conflitos em nível de cada diocese
(ou melhor, evidenciar conflitos latentes e visões diferentes de Igreja e
pastoral). Mas com certeza é mais transparente e aberto do atual sistema de
escolha dos bispos e pode garantir um maior sentimento de participação e
vínculo das comunidades junto às hierarquias da Igreja.
Como todas as propostas, poderia ser experimentada
por um certo período de tempo em algumas dioceses e submetida à avaliação da
Igreja.
É uma tentativa para permitir ao Espirito Santo
circular de forma mais horizontal no meio do povo de Deus.
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