Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
E-mail: padredario@gmail.com; Twitter:
@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

sabato 10 gennaio 2015

Nesse tempo de terrorismo, de que Espírito precisamos?

Nesse domingo, o primeiro depois do trágico atentado na França que está multiplicando no mundo os mais diversos comentários, o Evangelho nos fala do Espírito do Senhor que desce sobre Jesus. E que ele, desde a cruz, devolveu à humanidade inteira, como sopro recriador.

Refletindo sobre o terrorismo, Leonardo Boff oferece essa síntese: “É todo tipo de violência espetacular, praticada com o propósito de ocupar as mentes com medo e pavor”.
Os fatos desses últimos dias estão tomando posse de nossas mentes e instalando em muitas pessoas sentimentos profundos, radicais e fundamentalistas.

Afunda-se em alguns o espírito de vingança e intolerância. Reforça-se em outros o espírito do preconceito, da generalização. Outros ainda cavalgam o espírito do oportunismo político, porque no tempo do medo o poder se reforça.
É provável que se consolide, em nível internacional, o espírito do terrorismo institucional, que legitima a militarização, a caça ao inimigo, a pena de morte e a tortura entendidas como instrumentos de repressão e prevenção, as barreiras étnicas, religiosas e econômicas para defender identidade e privilégios exclusivos.
Pode aumentar uma espiral de violência que estimule, por parte de quem se sente agredido (cultural, econômica ou militarmente) novos atentados e ameaças.

Creio profundamente que a fé, apesar dos desvios que sofreu nas diversas formas em que tenta de se encarnar, tenha ainda muita luz a oferecer no cenário desse anoitecer de nossas civilizações.
Existe um Espírito diferente que pode alimentar nossa esperança de vida e fraternidade. Entendo melhor, hoje, o gesto demais mediatizado de papa Francisco que chamou à oração, num jardim, o espírito muçulmano e hebreu dos chefes de governo israelense e palestino.

De forma atenta, contínua e muito lenta, precisamos trabalhar o espírito que ocupa nossas mentes, nosso modo profundo de ler a história e interpretá-la, desmascarando os outros espíritos ‘ambíguos’ que a dirigem, nos influenciam e estão construindo uma sociedade cada vez mais racista, militarizada e agressiva.
“Um lápis não degola ninguém”, dizia uma das vítimas da loucura terrorista. Porém, o lápis, a palavra e a mente alimentam ações, influenciam pensamentos e culturas. Como é importante o cuidado que devemos pôr à nossa maneira de cultivar ideias, fés, valores e princípios para as escolhas individuais e comunitárias...

Como é importante, nesse domingo em que circulam milhares de comentários sobre os fatos de Paris, indagar sobre o Espírito que desce sobre o Galileu, homem de periferia, de uma terra de revoltosos e excluídos, “do outro lado da civilização” (além do rio Jordão).
Como é necessário dar visibilidade àquilo que já acontece há tempo, na outra margem do rio: pessoas que cotidianamente e em silêncio se dedicam ao diálogo intercultural, à acolhida e à inclusão do estrangeiro; pessoas de diferentes fés que se encontram em busca do Espírito, por exemplo exatamente na França, a Taizé, ou como tentaremos organizar na Tunísia, em oração inter-religiosa por ocasião do próximo Fórum Social Mundial...


E como nós também, no dia-a-dia, podemos tentar viver vencendo a banalidade do preconceito, exercitando-nos na arte do encontro, do perdão, controlando nosso racismo, interrompendo a espiral de violência passo a passo, como se fosse apagar fósforos...