Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
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@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

domenica 29 novembre 2015

Reflexão por ocasião da inauguração da aciaria de Piquiá


O livro do Gênesis (Gn 2, 15) apresenta o trabalho do ser humano como a continuação da obra de Deus. A criação é permanente e nós temos a responsabilidade grave e sublime de fazer a vida continuar.
Papa Francisco, em sua encíclica “Laudato Sí”, usa palavras muito bonitas para descrever o trabalho: “Colocar-se como instrumento de Deus para ajudar a fazer desabrochar as potencialidades que Ele inseriu nas coisas” (LS 124).
Trabalhar é criar. Não somente bens materiais, mas também relações de respeito, confiança, parceria. Trabalhar também é criar sonhos: alimentar as perspectivas das pessoas e os planos de futuro das famílias e da sociedade. Tudo isso merece a bênção de Deus.

O Papa, porém, nos alerta a respeito de um perigo: “Quando, no ser humano, se deteriora a capacidade de contemplar e respeitar, criam-se as condições para se desfigurar o sentido do trabalho” (LS 127).
É isso que estamos experimentando há anos como Paróquia, acompanhando o bairro de Piquiá, onde vivemos. Corre-se o perigo de passar do trabalho como criação permanente ao trabalho como destruição. Ainda temos nos olhos e no coração as imagens do desastre de Mariana-MG, por exemplo.
Hoje vos falo em nome da comunidade de Piquiá de Baixo. E vos falo com o coração na mão.

Escolheram de chamar esse empreendimento “Aço Verde do Brasil”.
Valorizo a qualidade da tecnologia aqui instalada e aprecio o fato que, supostamente, nessa etapa produtiva os impactos ambientais serão controlados.
É muito importante também o esforço de verticalização da produção, que vem trazendo mais oportunidades de trabalho qualificado a nossa população e valoriza as matérias primas de nossos territórios.
Mas a vocação e a identidade dessa nova empresa realizar-se-á se e somente se tornará “verde” a inteira cadeia de produção. Porque a etapa siderúrgica, que o digam os moradores de Piquiá de Baixo e também de Piquiá de Cima, é ainda marrom.
E não sou somente eu a afirmar isso, mas também uma decisão judicial.

Por causa dessas condições de poluição, os moradores de Piquiá de Baixo estão buscando há anos o reassentamento longe desse local. Mas desde já, hoje, pedem, precisam e exigem o direito à saúde e à vida.
Os grandes investimentos que foram feitos para construir essa aciaria, então, precisam ser feitos também para reduzir os impactos e as emissões das siderúrgicas.
Essa é a missão urgente que Deus nos dá, moradores, trabalhadores e empresários: Trabalho sim! Vida sim! Saúde sim! Não podemos considerar tudo isso como alternativas.
Após essa reflexão, vos convido a estender as mãos sobre essas instalações. Façamos a seguinte oração:
“Pai de amor, criador da vida, das coisas e do trabalho,
derramai suas bênçãos sobre esse local,
para que haja relações de respeito, de incentivo e valorização pessoal,
de organização e de vida.
Preservai-nos dos acidentes, ajudai-nos a respeitar as regras
e a sermos respeitados e valorizados,
como filhos teus, em nome de Jesus Cristo,  Amém!”

E agora vamos nos virar em direção às comunidades que moram aqui em volta, estendamos as mãos e vamos rezar novamente:
“Pai de amor, criador da vida, dos rios, do ar e da natureza,
derramai suas bênçãos sobre o povo de Piquiá de Baixo, de Piquiá e Açailândia,
que clama por saúde e vida.
Ensinai-nos a produzir sem ferir a criação e as pessoas,
iluminai os donos do poder e do dinheiro
para que não caiam no pecado da indiferença,
amem o bem comum, promovam os fracos
e cuidem deste mundo que habitamos
. (LS) Amém!”