tag:blogger.com,1999:blog-57008880358674494262024-03-17T18:05:47.557-07:00Vida e Missão neste chãope. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.comBlogger146125tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-12587577925977729502024-01-28T08:14:00.000-08:002024-01-28T08:14:05.432-08:00Brumadinho: fazer memória para defender a vida<p style="text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeISqb1-61qVKmDtYFxT2wtMDtyx2J2i0-TbGYu15IwiUqJG4I46tHICyCa2YEQHPzW3u7-xJiynhkt7z4Tq8cU9Y86xRYFpxrwge7x1WmzPbyIhyw4KTSTpfthIYdigWPfmhMukX19Rsz2SHQ4xrmuiDDOidWE18lFs7QUaqU_1Sg7n5bttTuML9K6DjW/s4624/20240125_115457.jpg" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="3468" data-original-width="4624" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjeISqb1-61qVKmDtYFxT2wtMDtyx2J2i0-TbGYu15IwiUqJG4I46tHICyCa2YEQHPzW3u7-xJiynhkt7z4Tq8cU9Y86xRYFpxrwge7x1WmzPbyIhyw4KTSTpfthIYdigWPfmhMukX19Rsz2SHQ4xrmuiDDOidWE18lFs7QUaqU_1Sg7n5bttTuML9K6DjW/s320/20240125_115457.jpg" width="320" /></a> </p><p>Chegando em Brumadinho para celebrar os cinco anos da tragédia-crime que matou 272 pessoas e contaminou a bacia do rio Paraopeba, muitos de nós recebemos uma rosa amarela e uma placa com um dos nomes das vítimas.<br /></p><p style="text-align: left;">Carreguei estes símbolos ao longo de todas as celebrações: a missa, a procissão, o ato em memória das vítimas e o abraço final. Durante a missa, uma senhora aproximou-se a mim, chorando e pedindo se podia trocar o nome que ela carregava com aquele que eu tinha, pois se tratava do filho dela. Abraçamo-nos longamente e deixei que ela se encontrasse mais uma vez com a memória viva do filho, que foi sepultado pela lama tóxica e maldita.<br /></p><p><b>A memória</b><br />“É graças a vocês, famílias de Brumadinho, que a memória deste crime ainda não se apagou. É graças a vocês que se reduziu o risco de repetição, porque fazer memória é exigir justiça, é cobrar garantias de não repetição!”. Dom Francisco Cota, bispo de Sete Lagoas e membro da Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB, tomou posição forte e profética na celebração eucarística, a cinco anos do desastre. <br />“Não foi acidente! A Vale mata rio, mata peixe e mata gente!” – gritavam, tomados de dor e indignação, os romeiros.<br /><br />A memória é um primeiro passo de ressurreição, de esperança na vida que não morre. “Não vamos esquecer!” – repetiu-se muitas vezes no ato de denúncia. E foram citados muitos fatos graves que ninguém quer esquecer: “a covardia da mineradora Vale e da empresa certificadora Tuv Sud”; “as mentiras sobre segurança do trabalho”; “a frase do presidente da Vale, Sr. Fábio Schwartsman, que não se deveria culpar a Vale porque esta empresa é uma joia brasileira”; “o executivo da Tuv Sud, que disse que mandaria seu filho sair imediatamente da mina quando soube do perigo – e não fez nada para os outros”; “os tratamentos de saúde para depressão, com psicólogo, psiquiatra e medicamentos ansiolítico que tivemos que tomar”; “o voto do desembargador relator que foi favorável ao habeas corpus do Sr. Fábio Schwartsman para retirá-lo do processo criminal”; “a manutenção do refeitório, do centro administrativo e do posto médico logo abaixo da barragem que desmoronou, sem nenhuma preocupação com os trabalhadores”; “as sirenas que não tocaram para salvar vidas”; “o fato que a Vale soubesse, meses antes, que quem estivesse a menos de dois quilômetros de distância da barragem não teria tempo para sobreviver”; “a negligência do presidente da Vale que, ao receber denúncia anônima via e-mail relatando a insegurança da barragem 16 dias antes da queda, a ignorou e, ao contrário, buscou o denunciante para puni-lo, chamando-o de ‘cancro’”.<br /><br />Pode parecer exagero das famílias, ainda carregadas de indignação e raiva. Mas poucos dias antes, o delegado da Polícia Federal Cristiano Campidelli denunciou tudo isso nos mesmos tons, durante um seminário contra a impunidade, organizado pela associação das famílias das vítimas, a Avabrum: “A verdade é que a Vale fez muito esforço para matar essas pessoas em Brumadinho; as pessoas morreram porque elas foram enganadas”, disse o delegado, confirmando a persistência criminosa da empresa e o simulado mentiroso, pelo qual ao tocar a sirene de emergência haveria para todos 15 minutos de tempo para saírem da área de perigo. Não houve toque de sirene, e as pessoas foram cobertas pela lama um minuto depois da queda da barragem.<br /><br /><b>As mentiras</b><br />Assim como foram mentiras os planos de segurança e a preocupação da empresa pelos trabalhadores/as e moradores/as de Brumadinho, é mentira afirmar que a mineração é sustentável, porque não tem segunda safra após o extrativismo predatório. <br />É mentira afirmar que traz desenvolvimento, porque este desenvolvimento é para poucos e a preços muito altos para a grande maioria das outras pessoas.<br />É mentira que esta mineração é inevitável, porque até agora acumulou bens financeiros nos bolsos de poucos e impediu soluções econômicas alternativas que beneficiariam muito mais pessoas. <br />É mentira acreditar que a solução à crise climática se dará simplesmente pela transição ao novo modelo de “energias limpas”, que continuam precisando de mineração maciça nas áreas de sacrifício de tantas partes do mundo.<br /><br /><b>A esperança</b><br />Mesmo se carregadas de dor e revolta, celebrações como aquela de Brumadinho devolvem esperança. É a esperança de famílias que não aceitam esquecer, não abaixam a cabeça, não se rendem aos acontecimentos, exigem dignidade, reparação, memória e garantias de não repetição!<br />Dá esperança ver diversas expressões religiosas (católica, evangélica, de matriz africana, indígena) caminharem juntos, cantarem e chorarem, invocarem os espíritos em defesa da Vida e aliar-se frente a gigantes inimigos que estão atacando seus territórios.<br /><br />Comungar na Eucaristia foi “fazer isso em memória de Jesus”, repetir o compromisso e o dom total de muitas pessoas, para que vença a vida e não se imponham as forças de morte. Foi comungar com as vítimas e sentir presentes, nelas, o corpo ferido e ressuscitado de Jesus, que continua caminhando conosco!</p>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-9427815905447010542024-01-28T08:08:00.000-08:002024-01-28T08:08:20.075-08:00Fé e política hoje<div style="text-align: left;"></div><div class="separator"><p style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGWiHFIDmirVdaVXuBL8yFjDidd_LYtMWA47_LFPibdA1yuP1BybbuZqndk8f0e-EUBlqfraJvhP-6mOtzYNzFlhZXCi7Yr_LE4808EiFBZfQnvUJ3SFzL9E8etYtxrAe5D0x5nQTTMbQddbbozQTikXDwoB2QaND7Q0TOKSyrSiPDBZWjAkgbVJmX6Wo_/s1080/Design%20sem%20nome(1).jpg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1080" data-original-width="1080" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiGWiHFIDmirVdaVXuBL8yFjDidd_LYtMWA47_LFPibdA1yuP1BybbuZqndk8f0e-EUBlqfraJvhP-6mOtzYNzFlhZXCi7Yr_LE4808EiFBZfQnvUJ3SFzL9E8etYtxrAe5D0x5nQTTMbQddbbozQTikXDwoB2QaND7Q0TOKSyrSiPDBZWjAkgbVJmX6Wo_/w320-h320/Design%20sem%20nome(1).jpg" width="320" /></a>Vamos dialogar informalmente sobre a relação entre fé e política? <br />Hoje, existem dois extremos: muitas pessoas têm um certo “nojo” da política, como se fosse só um espaço de corrupção e de alianças mafiosas. <br />Não faltam exemplos que corroborem isso, mas... não acham que esta insistência sobre a corrupção poderia também ser uma estratégia de quem tem o poder, para manter todos os outros distantes dele, desiludidos e desinteressados, e assim seguir administrando, dentro de um círculo restrito de controle da política representativa?<br />Precisamos voltar a acreditar na política, a melhor das políticas, como diz Papa Francisco!<br /><br />Ao outro extremo, tem aqueles que manipulam a fé por interesses políticos. Perceberam que a religião pode ser um ótimo instrumento para agregar pessoas em volta de um pensamento fundamentalista, que quer impor somente sua doutrina e não se abre ao diálogo da cidadania, caindo inclusive na discriminação religiosa e chegando frequentemente a adorar Mamona, em lugar de Deus.<br /><br />Na exortação Evangelii Gaudium, porém, Papa Francisco retoma uma frase de Papa Pio XII: a política é a melhor forma de amar (EG 205). <br />Para ser mais claro, volta a explicar-se na encíclica Fratelli Tutti: “Alguém ajuda um idoso a atravessar um rio, e isto é caridade primorosa; mas o político constrói-lhe uma ponte, e isto também é caridade. É caridade se alguém ajuda outra pessoa fornecendo-lhe comida, mas o político cria-lhe um emprego, exercendo uma forma sublime de caridade que enobrece a sua ação política” (FT 186).<br />Portanto, a política tem tudo a ver com a fé. Não devemos fugir dela, nem permitir que ela use nossa religião de forma manipulada. <br />Precisamos habitar com o Evangelho todos os espaços políticos! Por isso existe a Doutrina Social da Igreja, que é um ensinamento, um magistério muito sólido e consistente da Igreja, para que nosso jeito de ser cristãos e cristãs leve à transformação da sociedade, inspirando-nos no Reino de Deus.<br />Precisamos estudar mais a Doutrina Social da Igreja! A CNBB está propondo alguns cursos sobre isso, como é importante aprofundar e comprometer-se!<br />Precisamos de mais cristãos e cristãs que se envolvam com honestidade e paixão na política.<br /><br />Mas, atenção: não estamos falando só de política representativa, aquela que elege algumas pessoas e depois, por 4 anos, as esquece no cargo que lhes foi confiado. Estamos falando de participação! <br />Todas as formas de se organizar na sociedade para proteger e garantir o bem comum são política. O bem comum, o bem viver, a ecologia integral: são todas expressões de uma visão ampla, inclusiva, como a utopia do Reino de Deus. <br />E são todas perspectivas que começam a ser organizadas e construídas a partir dos territórios. Papa Francisco, por exemplo, valoriza muito o diálogo da Igreja com os movimentos populares, que ele chama de “semeadores da mudança, poetas sociais” (FT 169). Portanto, é a partir dos territórios que nossa fé se torna política.<br />Pela fé, os cristãos denunciam uma injustiça, uma situação de exclusão, desigualdade ou falta de oportunidades. <br />Pela fé, os cristãos se organizam e participam nos conselhos e assembleias que debatem o bem comum e projetos coletivos num bairro, numa cidade, numa região...<br />Pela fé, defendem seus territórios, como fez recentemente uma comunidade cristã urbana, que se organizou contra a especulação imobiliária e conseguiu defender uma área verde em seu bairro. Ou como está fazendo a Pastoral da Moradia, que luta pelos direitos a saneamento básico, transporte, saúde e educação nas favelas e grandes periferias. Ou, ainda, como faz o CIMI, Conselho Indigenista Missionário, que repudia o Marco Temporal porque condena os povos indígenas e faz os interesses do agronegócio invasor.<br /><br />Pois é, a política não está tão distante de nós. Todos e todas nós podemos ser “artesãos da paz”, recorda Papa Francisco em sua mensagem para o Dia Mundial da Paz em 2022. <br />A paz e a melhor política estão em nossas mãos e se constroem a partir dos territórios onde vivemos. <br /><br /></p></div>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-62659579922824108162023-12-18T05:10:00.000-08:002023-12-18T05:10:02.507-08:00Aguçar o olhar e enxergar sinais de Paz<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3yRcvsFYaRguKS48AtytwIdXIyp8OSo0zM1KlhsNFsPQUURp5nxWBMJOKupieE75KFBysLljsQ4bhc1EejFCVFi6X1co_vXg27E03a1RkaYbc_4jWBbw0aoDJNwTrChPrhpXX-zkD520clcRtk_lktiRjDpmdMPoTKv2Gz3XzqrsQxkwfVrpzKecdawRz/s1275/WhatsApp%20Image%202023-12-18%20at%2009.50.57.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1275" data-original-width="956" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg3yRcvsFYaRguKS48AtytwIdXIyp8OSo0zM1KlhsNFsPQUURp5nxWBMJOKupieE75KFBysLljsQ4bhc1EejFCVFi6X1co_vXg27E03a1RkaYbc_4jWBbw0aoDJNwTrChPrhpXX-zkD520clcRtk_lktiRjDpmdMPoTKv2Gz3XzqrsQxkwfVrpzKecdawRz/s320/WhatsApp%20Image%202023-12-18%20at%2009.50.57.jpeg" width="240" /></a></div>Paz!<br />A pedimos com força, neste período de Natal.<br />“O povo que andava nas trevas viu uma grande luz”, profetiza Isaías. <br />Para reconhecê-la, na escuridão de muitas situações, é preciso caminhar e aguçar o olhar.<br />Não ficarmos parados, anestesiados. Não nos deixarmos cegar por tantos brilhos sem horizontes. <br />Buscar, esperar, confiar, ouvir os pequenos sinais da realidade e do Espírito.<br />Seria bom viver o Natal assim, como uma peregrinação noturna, feita de silêncio, de oração e de escuta, de espera.<br />Este mundo aos pedaços nos pede isso, a começar pela querida Palestina, destruída e agonizante; pede-o também a Mãe Terra, que não aguenta mais o nosso modo de vida.<br /><br />Também sentimos essa necessidade na vida quotidiana, nas dores e nas expectativas das nossas famílias. Um Natal em que possamos falar uns aos outros sobre esperança. <br />O que é que, apesar de tudo, nos mantém vivos e nos dá sentido? <br />Um Natal para chegar na profundeza desta busca... e assim não afundar.<br /><br />De minha parte, compartilho algumas brechas de luz, como a organização dos movimentos populares e das pessoas em situação de rua, que aumentaram muito nos últimos anos: recentemente, a mobilização dessas pessoas conseguiu aprovar uma política pública federal para prevenir novas situações de abandono, para cuidar de quem estiver em situação de rua e para reconstruir perspectivas para sair dela. <br />O lançamento ocorreu no Palácio do Planalto, com o Presidente da República, diversas autoridades e vários representantes da população em situação de rua, no mesmo espaço. <br />Me faz pensar numa política com os pés no chão, do ponto de vista das calçadas e não apenas das grandes rodovias...<br /><br />Nos próximos dias, a Comissão para Ecologia Integral e Mineração da CNBB visitará o povo Ka'apor, no Maranhão. Eles se veem cada vez mais invadidos pelo desmatamento, o garimpo, a mineração e as falsas soluções dos créditos de carbono. Os Ka’apor perderam a fé na proteção do Estado, mas estão se organizando como Guardiões da Floresta, coletivos de autodefesa que realizam monitoramento permanente de seus territórios e mapeamento participativo. <br />Me faz pensar numa Igreja que se torna rebanho, para aprender a ser pastora...<br /><br />Nos últimos meses, no Equador, jovens estudantes, famílias e comunidades cristãs uniram-se num referendo histórico, que mobilizou milhões de pessoas e aprovou a escolha de deixar o petróleo no subsolo, na região amazónica de Yasuni, para preservar a sua biodiversidade.<br />Da mesma forma, no Panamá, o protesto popular – também apoiado pelos bispos, que saíram às ruas com o povo – conseguiu cancelar as concessões mineiras e evitar que o Estado se vendesse à voracidade das empresas predatórias. <br />Me faz pensar em novas formas de economia, decoloniais, que podem se afirmar quando as pessoas se organizam e se comprometem...<br /><br />Enxergar sinais de luz ajuda a não nos perdermos. Quem sabe seja este o melhor presente para a noite de Natal? Menos coisas e mais sinais, de carinho, de partilha, de comunhão com a vida dos povos e da Terra.<br />Feliz Natal!<br /><p></p>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-45959622697632600502023-10-30T06:18:00.000-07:002023-10-30T06:18:24.200-07:00Que jorre a paz como uma fonte e a justiça como torrente que não seca!<p><!--[if gte mso 9]><xml>
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seca que atacou boa parte de nosso país e colocou em crise especialmente a
Amazônia, e pelas fortes enchentes no Sul do Brasil.<p></p>
<p class="MsoNormal">A humanidade está de joelhos frente à emergência climática e
a criação inteira está gemendo. Papa Francisco publicou, no dia de São
Francisco, a exortação Laudate Deum, mostrando sem meias palavras quem são os
responsáveis desta crise e quão urgente é colocar um limite ao poder econômico
e aos países que mais estão poluindo. </p>
<p class="MsoNormal">Poucos dias depois, a guerra entre Israel e Hamas quebrou
ainda mais este mundo “em pedaços”. Os apelos do Vaticano e da ONU não estão
sendo escutados. Unimo-nos aos movimentos populares do mundo inteiro, que neste
dia 4 de novembro irão descer às ruas, clamando pelo cessar do fogo, a abertura
de corredores humanitários e a convocação de uma conferência de paz. Parem! A
guerra é sempre uma derrota! – clama Papa Francisco.</p>
<p class="MsoNormal"></p>
<p class="MsoNormal">Frente a situações tão complexas, a gente se sente impotente
e isso provoca também um forte desânimo. Ou, mais facilmente, as pessoas se
retiram em seu mundo individual, desistindo do compromisso por uma sociedade
mais justa e na paz.</p>
<p class="MsoNormal">Por isso, queria brevemente trazer o testemunho de tantos
cristãos-as e pessoas de boa vontade que, ao contrário, não desanimaram e
continuam a trabalhar como formiguinhas, como artesãos e tecelãs da Paz.</p>
<p class="MsoNormal">Refiro-me aos muitos grupos, Brasil afora, que estão
trabalhando na 6ª Semana Social Brasileira. Um percurso que começou 4 anos
atrás e que está chegando à fase de conclusão, de encaminhamentos e ações.
Antes, foi traçado um profundo diagnóstico sobre “O Brasil que temos”, focando
no direito de todas as pessoas a Terra, Teto e Trabalho, conforme a missão que
Papa Francisco deu às pastorais sociais e aos movimentos populares.</p>
<p class="MsoNormal">Agora que temos claro o diagnóstico, os mutirões da Semana
Social, espalhados por todo o Brasil, estão construindo um Projeto Popular, que
intitulamos “O Brasil que queremos: o Bem Viver dos povos”.</p>
<p class="MsoNormal">Outubro foi um mês intenso de trabalho nisso, porque
precisamos chegar a março de 2024 com este projeto pronto e com uma lista de
ações concretas, de transformação social e incidência política, que queremos
assumir como Igreja e movimentos em todos os territórios.</p>
<p class="MsoNormal"></p><p class="MsoNormal">“Que jorre a paz como uma fonte e a justiça como torrente
que não seca!” – dizia o profeta Amos num versículo que inspirou o Tempo da
Criação, concluído em outubro.</p>
<p class="MsoNormal">Que o trabalho formiguinha da Semana Social Brasileira
consiga envolver mais e mais pessoas, porque a paz – ensina o Papa – se
constrói a partir de dentro e de baixo!</p><p><!--[if gte mso 9]><xml>
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Santa Cruz da Reconciliação celebramos a S. Eucaristia com um cálice e uma
patena de madeira (Pau Brasil). É uma tentativa de desprender a Igreja do ouro.<p></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Na Igreja Católica, o ouro é usado nos objetos artísticos, nas
decorações e, sobretudo, nos vasos sagrados para a celebração da Eucaristia. Entende-se,
com isso, dignificar os símbolos do encontro entre a humanidade que celebra e
Deus. Também na cultura bíblica o ouro é associado à realeza e à divindade. Não é assim, hoje, especialmente em América Latina.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">O ouro é um dos produtos mais cobiçados durante centenas de anos de
colonização, escravidão e saque de nossas terras. Buscando o ouro, milhões de
vidas foram sacrificadas e a história de nossa Pátria Grande prejudicada.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Hoje, a extração de ouro avança em escala industrial, com lavagem de
dinheiro sujo e violação sistemática da lei, destruindo e ameaçando territórios
e comunidades; na Amazônia acontecem os maiores estragos e a mais brutal
violência (os exemplos mais recentes são os 20mil garimpeiros em terras
Yanomami, provocando conflitos e contaminando os povos pela Covid; as ameaças e
violências contra as mulheres Munduruku; a morte de duas crianças Yanomami
sugadas pelas dragas de garimpo; as centenas de balsas e dragas em Autazes –
Rio Madeira; as grandes quantidades de mercúrio despejadas nos rios).</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Também em outros territórios a extração do ouro é sempre ligada a muita
violência. Para chegar a um anel de ouro de 10 gramas, é preciso explodir e
retirar 20 toneladas de dejetos, utilizar 1,5 Kg de cianeto e 7mil litros de
água.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Muito ouro é armazenado em cofres - como reserva de valor ou como
joalheria. Já extraímos ouro suficiente da terra e as reservas de ouro da terra
são limitadas. No entanto, a mineração de ouro continua aumentando.</span></p><p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Não cremos que, hoje, Deus se sentiria adorado e respeitado pelo uso
deste metal “precioso”, cuja extração carrega tantas injustiças. </span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Ao contrário, os vasos sagrados de madeira nos reconectam ao ciclo da natureza e da
semente que morre e dá vida, nos incluem na dimensão cósmica e pulsante da
celebração eucarística. Decorados com os grafismos indígenas, nos recordam a encarnação de Jesus
em todas as culturas, o respeito que é devido a elas, a reconciliação que somos
chamados-as a promover numa história de tamanha exclusão.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Mais de 500 bispos participaram ou subscreveram o Pacto das Catacumbas,
durante o Concílio Vaticano II, em 1965. Entre seus compromissos proféticos,
diziam: “Para sempre
renunciamos à aparência e à realidade da riqueza, especialmente no traje
(fazendas ricas, cores berrantes), nas insígnias de matéria preciosa (devem
esses signos ser, com efeito, evangélicos). Cf. Mc 6,9; Mt 10,9s; At 3,6. Nem
ouro nem prata”.</span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;">Também nós, hoje, reassumimos esse compromisso, em nosso jeito de
celebrar, viver, sermos solidários-as e promovermos a justiça e a paz.<br /><br /></span></p>
<p class="MsoNormal" style="text-align: justify;"><span style="mso-ansi-language: PT-BR;"><span style="font-size: x-small;"><i>Leia-se a Introdução geral ao Missal Romano, n. 329, sobre os Vasos sagrados.</i></span><br /></span></p>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-66298799388067290342021-05-09T10:09:00.001-07:002021-05-09T10:09:21.315-07:00Lhe pedimos perdão, mãe...<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh14y6z2gmcLH3yTnfS8Rl2Ue2b8jBx4mg_GWLT7_hit9BHXt8Sl-AacTHehPqnNnv7jky2vZhT-cGtbDZcgKv2bj2HgkQRNyGmHvCcuYVDrKKBCf76UFRf1k_Ntnf4_FkZ0m2B0X0FNqlr/s944/m%25C3%25A3e.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="944" data-original-width="741" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh14y6z2gmcLH3yTnfS8Rl2Ue2b8jBx4mg_GWLT7_hit9BHXt8Sl-AacTHehPqnNnv7jky2vZhT-cGtbDZcgKv2bj2HgkQRNyGmHvCcuYVDrKKBCf76UFRf1k_Ntnf4_FkZ0m2B0X0FNqlr/s320/m%25C3%25A3e.jpeg" /></a></div><p></p><p><br />Mãe,<br />Antes de ontem invadiram sua casa.<br />Seu filho tinha 22 anos, ou 19, ou 23, ou 18...<br />Talvez estava preparando um presente para você, para hoje, Dia das Mães.<br /><br />Não sabemos ainda o nome de seu filho. <br />Vários corpos ainda não foram identificados.<br />Mas o vice-presidente da República já disse que ele era um marginal.<br />E a polícia decidiu, acima da lei, que marginal deve ser executado.<br /></p><p><br />Hoje lhe pedimos perdão, mãe.<br />Nada justifica essa violência bestial,<br />E ainda a chamamos de inteligência policial.<br /><br />Queremos passar contigo do luto à luta,<br />amando, <br />nos indignando,<br />buscando justiça, <br />rezando contigo.<br /><br />Ave, Maria...</p>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-29198991211274279192021-04-11T12:02:00.003-07:002021-04-11T12:03:24.430-07:00Seu João Luís<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj8KVIOod3xM4C0y2XNnOi93x-WJ_oVJoniqJEGGFZWAg87TwlLhXKQsRc6ejoPjypW6cdZzflybq1uv0j-pmwdCRlQHPR9JJeZu4nwxFRE5lWBIYIbB2kmsSInW5LZfJ27_PvR1oKQrhj/s620/seu+Jo%25C3%25A3o.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="620" data-original-width="409" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhj8KVIOod3xM4C0y2XNnOi93x-WJ_oVJoniqJEGGFZWAg87TwlLhXKQsRc6ejoPjypW6cdZzflybq1uv0j-pmwdCRlQHPR9JJeZu4nwxFRE5lWBIYIbB2kmsSInW5LZfJ27_PvR1oKQrhj/s320/seu+Jo%25C3%25A3o.jpeg" /></a></div>Seu João Luís não faltava nunca.<br />Tinha uma sensibilidade incrível por todas as causas populares: quer que fossem reivindicações no seu bairro do Jacu, pautas sobre os direitos das pessoas com deficiência, ou lutas por mais transparência na administração municipal. <p></p><p>Havia uma marcha das crianças e adolescentes contra a exploração sexual? Seu João estava lá.<br />Era uma formação na Paróquia, sobre o compromisso social da Igreja? Seu João na primeira fila.<br />Uma iniciativa do Centro de Defesa da Vida e dos Direitos Humanos? Contem com o seu João!<br />Participava quase sempre das sessões da Câmara Municipal, acompanhava as mais diversas pautas. Teimoso, presente, exigente: os direitos humanos se defendem assim!<br />Mas seu João o fazia sempre de um jeito singelo: com seu sorriso de pessoa simples, aquela bolsa de pano no ombro e seu caderno de anotações. Capaz de conversar, com o mesmo respeito, junto ao prefeito, ou dando tempo e atenção a uma criança ou às pessoas na rua... </p><p>Aposto que também estava se empenhando muito para ajudar as famílias atingidas pela pandemia. <br />Tanto ele como sua esposa não sobreviveram à Covid, a distância de pouco tempo um da outra. Junto com a dor por mais essa perda inestimável, vem a indignação por como a pandemia está sendo tratada nesse Brasil. </p><p>Quantas mortes ainda deveremos chorar, antes que se tomem medidas rigorosas, unificadas em nível federal, respeitosas das recomendações da ciência e da experiência dos outros países?<br />Seu João nos acompanhe em nossa reivindicação por vacinas já, em defesa do SUS e de um auxílio emergencial digno até o fim da pandemia!</p><p>João Luís não faltava nunca. Agora, fará muita falta...</p>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com2tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-18703692994850244062021-04-01T04:57:00.001-07:002021-04-01T04:57:10.018-07:00Sinais de Ressurreição<p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8Y4Qad4_rkAH6WxA0SsXDkzxxDTlC2xBulfy7N9Dc_fFYi6ggQPK4hEC8xRYIg2XR1VHuZzxQVLSd16Ys4394TDEXYlaR5HVWNQMZ8sAeGMJhTMhgc69L6TidYrxqmbPqXrU_OyWNFcIx/s1079/Fazei+isto+em+mem%25C3%25B3ria+de+mim.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="849" data-original-width="1079" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj8Y4Qad4_rkAH6WxA0SsXDkzxxDTlC2xBulfy7N9Dc_fFYi6ggQPK4hEC8xRYIg2XR1VHuZzxQVLSd16Ys4394TDEXYlaR5HVWNQMZ8sAeGMJhTMhgc69L6TidYrxqmbPqXrU_OyWNFcIx/s320/Fazei+isto+em+mem%25C3%25B3ria+de+mim.png" width="320" /></a></div><br />De portas fechadas, com medo, preparando perfumes para tantas pessoas que tivemos que sepultar nesses longos meses de agonia: é uma Páscoa com sabor de morte, impotência e raiva.<br />Apertamo-nos ainda mais ao Pai: que passe esse cálice amargo, que tuas mãos sustentem nosso espírito frágil...<br />A Palavra de Deus, na Quinta-feira Santa, ilumina e nos dá uma tríplice missão.<br /><i>Fazer memória é servir</i>. Lavar os pés de quem nem consegue mais se agachar para cuidar de si, por falta de oxigênio, de comida ou de esperança. <br /><i>Fazer memória é celebrar</i>. Nunca esquecer que o Filho de Deus foi até as últimas consequências de suas palavras de amor radical. Seu corpo nos congrega, nos dá força, nos espera nos corpos de tantos outros filhos e filhas de Deus feridos.<br /><i>Fazer memória é libertar</i>. Manter-se de pé, cingidos, prontos a caminhar. Há uma Páscoa a preparar. “Uma libertação sangra por dentro de mim”, dizia o mártir pe. Ezequiel.<br />Obrigado, Pai, por todos os cuidadores-as que nesses meses estão servindo a vida, com paixão, teimosia, no silêncio invisível das casas e dos hospitais. São sinais de Ressurreição!<br />Obrigado, Pai, pela Igreja que celebra seu compromisso com a vida, pela Campanha da Fraternidade que encarna o Evangelho, pelas comunidades e famílias que não desistiram de se encontrarem em oração. São sinais de Ressurreição!<br />Obrigado, Pai, pelos profetas que ainda têm coragem de denunciar, exigir respeito pela vida e a democracia, apontar caminhos de justiça, paz e cuidado de toda a Criação. São sinais de Ressurreição!<br /><br /><p></p>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-59274843614413853612020-09-09T17:00:00.004-07:002020-09-09T17:00:44.965-07:00Dona Nenzinha, rueira e rezeira <p></p><div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf9RXO9_KLjnS4rW5636c1icT_tEtDNN4fqn-duSycFv48Wh_t1rdqgNPUNQ7Z-xnp4hB2GSCe5jHyEvx_znulTXwROgRRESvHoP5ea5hv0LhxG6YTX2bH_B_yMl_u5Re6frwQb7Ydn_WM/s2048/dona+Nezinha+e+seu+Pedro.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1365" data-original-width="2048" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjf9RXO9_KLjnS4rW5636c1icT_tEtDNN4fqn-duSycFv48Wh_t1rdqgNPUNQ7Z-xnp4hB2GSCe5jHyEvx_znulTXwROgRRESvHoP5ea5hv0LhxG6YTX2bH_B_yMl_u5Re6frwQb7Ydn_WM/s320/dona+Nezinha+e+seu+Pedro.jpg" width="320" /></a></div>Uma das primeiras lições que aprendi da fé popular, ao chegar ao Brasil, foi que os cristãos devem ser “rueiros e rezeiros”. <br />Homens e mulheres de oração, sim, mas também com o pé na estrada, em visita, sempre a caminho rumo aos outros.<br /><br />Muitos anos depois, conheci dona Nenzinha, ministra da Eucaristia da comunidade São José de Piquiá de Baixo.<br />Vivia ao lado de seu Pedro, seu marido. Os dois quase sempre na varanda fora de casa, deixando a vida acontecer, na pracinha e na quadra de futebol, logo à sua frente...<br />O ritual da visita, toda vez que descíamos no bairro, era um copo de água fresca e algumas palavras sobre as últimas novidades, a poluição que não cessa, a tosse e o cansaço que ofuscavam as esperanças desse casal de idosos.<br /><br />Rezeira, todo domingo dona Nenzinha abria a igrejinha bem antes da missa; cuidava do altar, dos panos e toalhas, incrivelmente limpos naqueles espaços de fumaça e poeira. Seus gestos, assim como sua dignidade, eram silenciosos, reservados. Mas falavam alto: Deus e nossas famílias merecem bem mais que esta poluição!<br /><br />Rueira, não perdia ocasião para visitar as pessoas idosas ou doentes, que não tinham como ir à igreja: levava-lhes um sopro de Deus. Era mulher de muito fôlego, não parava nunca, tinha respiro e esperança de sobra para partilhar!<br /><br />Como muitas famílias, Nenzinha e Pedro não aguentaram viver na nuvem de fumaça e saíram do Piquiá de Baixo. Mudar de bairro não foi mudar de vida: sua devoção a São José, protetor e providente, encontrou São Miguel, na comunidade cristã de Plano da Serra. De longe, junto ao anjo do combate contra as forças do mal, continuava torcendo pelas famílias amigas, deixadas no Piquiá. <br /><br />Nestes últimos dias, dobrou e arrumou sua vida como fazia com aqueles panos do altar.<br />Carregou-a, como uma oferenda leve, bordada e engomada, até as mãos de Deus. <br />Imagino que foi até Ele caminhando, devagar, como sempre. Como mais uma visita a ser feita, como uma procissão; como se dependesse dela, hoje, abrir cedo as portas do Paraíso, do jeito que abria as portas da igrejinha de Piquiá.<br /><br />Dona Nenzinha, reze por nós: um dia chegaremos juntos, mas queremos levar até a senhora muitas outras histórias de solidariedade, de resistência e de Conquista! <br />E leve nosso abraço ao seu Edvard...<br /><br /><p></p>pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com4tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-12925414895050131662020-04-11T11:07:00.000-07:002020-04-11T11:07:02.163-07:00No Sábado Santo, a Páscoa, pelas mulheres<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjePSRKaFiPRPGukibIv8Oq_YaXQGPKy9Y567cBmWgrs5fTiDYnJ1VWHhUg7r-qT8p9amVlbGbN6dpnJcmEOGdrc1XW9tEHT6pRDvJqNmC7tQx7tGRDEFEQP6he1fZgI1BdRQnKY-kFklfe/s1600/madalena.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="495" data-original-width="720" height="220" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjePSRKaFiPRPGukibIv8Oq_YaXQGPKy9Y567cBmWgrs5fTiDYnJ1VWHhUg7r-qT8p9amVlbGbN6dpnJcmEOGdrc1XW9tEHT6pRDvJqNmC7tQx7tGRDEFEQP6he1fZgI1BdRQnKY-kFklfe/s320/madalena.jpg" width="320" /></a></div>
Nesta noite proclamaremos a Páscoa, mas na verdade continuaremos como num longo Sábado Santo.<br /><br />
Em tempos de pandemia, estamos todos e todas em silêncio, à espera: num certo clima de medo, pelo que poderá acontecer aqui no Brasil; numa atitude de esperança ativa, para evitar que o mal se espalhe rápido demais.<br />É também o Sábado Santo de tantas situações de fragilidade, não só pelo vírus. Tantas pessoas e comunidades que se encontram entre a morte e a promessa de vida.<br />
A Páscoa acontece aqui, desde dentro das longas noites de Sábado Santo.<br /><br />O Evangelho destaca que a Páscoa chega a todos através das mulheres.<br /><u>São elas que permanecem de pé perto da cruz</u>.<br />Não desanimam, não se deixam apavorar pelos soldados. Lembram-nos as Madres de Plaza de Mayo, que desde 1977 descem na praça toda semana, em memória dos filhos mortos pela Ditadura. <br />Ou as mulheres indígenas, que todo mês de abril descem a Brasília junto a seus guerreiros, para reivindicar terra e direitos. Ou a marcha das Margaridas, das mulheres camponesas, todo dia 12 de agosto.<br /><br /><u>São elas que vigiam preparando perfumes</u>.<br />Não deixam a noite vencer, cuidam dos corpos feridos, da Mãe Terra violentada. Lembram-nos as mulheres e homens profissionais de saúde, que no mundo todo estão se doando por inteiro na luta contra o vírus. Também nos lembram nossas mães...<br /><br /><u>São elas que tomam a iniciativa, mesmo tendo o obstáculo da pedra</u>.<br />Não se bloqueiam frente à dificuldade. Sabem “primerear”, inventam sempre passos novos. Lembram-nos as mulheres de nossas comunidades cristãs, mesmo quando oprimidas pelo peso de uma Igreja machista e clericalista. <br />Recordamos a iniciativa e o protagonismo das mulheres no Sínodo da Amazônia, rezamos hoje para que se abram, para elas, os caminhos do diaconato e do ministério instituído de coordenadoras de comunidade.<br /><br />Não será uma Páscoa estrondosa, teremos que reconhecer a Ressurreição nestes pequenos sinais. As mulheres sugerem que procuremos Jesus ressuscitado lá na periferia, onde tudo começou, na Galileia... </div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-32505693421630364422020-02-12T10:32:00.001-08:002020-02-12T10:32:21.520-08:00De coração aberto e a plenos pulmões<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
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<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
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<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">Recebemos a Exortação Apostólica <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Querida Amazônia</i> de coração aberto e a
plenos pulmões.<br />
Sínodo significa "caminhar juntos": é um percurso que vem de longe,
iniciado há pelo menos dois anos, escutando milhares de pessoas e comunidades, até
convergirmos no <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Documento Final</i>. O
Papa pede que nos comprometamos a lê-lo e aplicá-lo na íntegra.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">Este caminho ainda precisa ir longe, porque as
pistas que se abrem são audaciosas e de profunda mudança, conversão integral.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;"><br />
Caminhamos com as pernas e a paixão dos mártires: não é por acaso que o
documento foi entregue hoje, 12 de fevereiro, quinze anos após o assassinato da
defensora da floresta ir. Dorothy Stang.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">Papa Francisco escreve não para substituir o
documento final, mas oferecendo uma reflexão, uma síntese, quase para nosso
coração bater mais forte. Resgata poesia e sonho, bebe à fonte das culturas
amazônicas. Beleza e poesia salvarão o mundo!</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;"><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Uma caminhada bem sinalizada</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">Com insistência indignada, um ponto fixo que orienta
o caminho é a denúncia do modelo predatório e neocolonial que está saqueando a
Amazônia. O Papa sabe que esse modelo é hábil em se disfarçar, a ponto de
enganar ou seduzir às vezes até alguns membros da Igreja. É preciso clareza e
determinação para rejeitá-lo, recuperar e proteger a inspiração e o
protagonismo dos povos originais, seus planos de vida, a sabedoria do Bem
Viver, a voz forte dos últimos, os direitos e as propostas dos pequenos...</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;"><br />
O caminho do Sínodo está entrelaçado com o da Economia de Francisco e Clara (encontro
em Assis, em março), com o Pacto Educativo Global convocado pelo Papa em maio,
com os muitos grupos que em diferentes partes do mundo, a partir de outubro
passado, estão assinando e contextualizando o Pacto das Catacumbas para a Casa
Comum.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">No Brasil, em exatamente um mês, a REPAM e uma
rede de muitas outras organizações lançarão a campanha "A vida por um
fio", em defesa de comunidades e líderes ameaçados na defesa de seus
territórios.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">A rede latino-americana <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Iglesias y Minería</i> está promovendo a campanha de desinvestimento da
mineração, como um passo concreto para as comunidades religiosas se
distanciarem da economia predatória.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;"><br />
<b style="mso-bidi-font-weight: normal;">Ainda faltam alguns companheiros-as</b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">O Sínodo abriu um longo processo, em busca de um
maior protagonismo das mulheres na Igreja, mas ainda temos muito a avançar. A
Exortação Apostólica oferece algumas propostas, a partir das quais é necessário
dar um passo com coragem. Por exemplo, os bispos podem instituir ministérios
que garantam autoridade, reconhecimento público e real incidência de mulheres
na liderança de comunidades e na Igreja diocesana.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; mso-layout-grid-align: none; text-align: justify; text-autospace: none;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">A iniciativa de ordenar padres homens reconhecidos
pelas comunidades cristãs em regiões isoladas da Amazônia, mesmo com uma
família constituída e estável, permanece como uma decisão da assembléia
sinodal, incluída no documento final. O Papa não a retoma, destaca outros
pontos da vida, mas ao mesmo tempo indica que a presença pastoral precária exige
uma resposta corajosa da Igreja e a identificação de "ministros que possam
compreender <i style="mso-bidi-font-style: normal;">a partir de dentro </i>a
sensibilidade e as culturas</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">amazónicas".
O advérbio de lugar que destaquei é importante.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">Toda a Exortação
é baseada no pressuposto de uma Igreja encarnada e inculturada, que não pode
depender de ministros que lideram, administram e celebram vindo desde fora.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">A palavra e
a iniciativa, portanto, passam às igrejas locais, para que elas pensem,
organizem e proponham ao Papa caminhos viáveis, contextuais, respeitosos e
corajosos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: normal; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;">"Não
cortemos as asas ao Espírito Santo"!</span><span style="font-family: "Times New Roman","serif"; font-size: 12.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: EN-GB;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-5686428038846681622020-01-02T08:43:00.002-08:002020-01-02T08:43:54.771-08:00Memória de 2019 - nossos vídeos mensais<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVp9Db4EJdZOkEEcCQdL3cMRkBHE3m3pJZEcHUcTp90uRVDH_wqLIRgIpf_MpaIo7ix_ZVHebCiQYiS2xxFICoIn_9Fs8Gfry_A5HEwqwUKsGHOrASk-ePgWt3qh_Bgc5W-EnyOpCJnj4R/s1600/videos.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="119" data-original-width="211" height="180" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjVp9Db4EJdZOkEEcCQdL3cMRkBHE3m3pJZEcHUcTp90uRVDH_wqLIRgIpf_MpaIo7ix_ZVHebCiQYiS2xxFICoIn_9Fs8Gfry_A5HEwqwUKsGHOrASk-ePgWt3qh_Bgc5W-EnyOpCJnj4R/s320/videos.JPG" width="320" /></a></div>
Também durante 2019, todos os meses os Missionários Combonianos ofereceram um breve vídeo (5') de reflexão e aprofundamento sobre a fé, a caminhada pastoral e a situação do Brasil.<br />
Neste ano, demos destaque particular ao Sínodo da Amazônia e ao compromisso da Igreja pela ecologia integral. <br />
Para facilitar, oferecemos aqui a coleção completa, que está guardada no Canal Youtube dos combonianos.<br />
Que seja um 2020 vivido com paixão missionária, na promoção da paz e da justiça!<br />
<br />
Dezembro - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=VEzOXzFQmw4">Natal: em Jesus, Deus nasce na história e culturas</a><br />
<br />
Novembro - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=FlHfXoX2lso">Como viver o Sínodo, apesar das fake news na rede</a><br />
<br />
Outubro - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=OJgdADwQ52I">Sínodo da Amazônia, Igreja profética com esperança</a><br />
<br />
Setembro - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=6qdMX3gDC5o">Sínodo da Amazônia, o clamor da terra e dos pobres</a><br />
<br />
Agosto - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=NbEm-8m__8U">A Igreja e o futuro da Amazônia e do Brasil</a><br />
<br />
Julho - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=mhuFsxeqPSw">Por que o pe. Ezequiel Ramin no Sínodo da Amazônia?</a><br />
<br />
Maio - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=BzlPKfxKYiY">Bolsonaro e o ato de consagração do Brasil a Nossa Senhora</a><br />
<br />
Abril - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=7ACek2fTuy0">Oração pela Igreja: pés no chão, coração com os pobres</a><br />
<br />
Março - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=4HDky6ELfB4">Quaresma: o que Deus espera? Amor e mudança de vida</a><br />
<br />
Fevereiro - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=B7Z-0rkHP8c">Mudanças climáticas: terra, natureza e vida humana</a><br />
<br />
Janeiro - <a href="https://www.youtube.com/watch?v=AmwbpELjsmY">Paz: direito ou dever?</a><br />
<br /></div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-78526661613389271902019-08-14T16:27:00.001-07:002019-08-14T16:27:28.381-07:00Resistência e profecia na Amazônia<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvbUkIgqB88VMfeMeJP1WvERNOGZOLELnbXKkFzdOkK-IixGKZ2xfx5omCQwUg1YL9Ss7daveDZNddf2f_ICDvEV9OMWVG0OseVVpSuifqDdz-cTyQxjE0YOaA-TLtB0YayssuOzx2VcTS/s1600/_MG_9254.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="675" data-original-width="1024" height="210" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhvbUkIgqB88VMfeMeJP1WvERNOGZOLELnbXKkFzdOkK-IixGKZ2xfx5omCQwUg1YL9Ss7daveDZNddf2f_ICDvEV9OMWVG0OseVVpSuifqDdz-cTyQxjE0YOaA-TLtB0YayssuOzx2VcTS/s320/_MG_9254.jpg" width="320" /></a></div>
"Para nós, os nomes são importantes. Nossa cidade é chamada
Açailândia, terra do açaí, a fruta amazônica mais cheia de vida. A Mãe
Terra, como todas as mães, nos deu um nome.<br />
Nosso bairro é chamado Piquiá: uma das árvores majestosas da floresta, que não existe mais”.<br />
<br />
São
trechos de longos diálogos com dona Tida, líder da comunidade de Piquiá
de Baixo, vítima dos impactos socioambientais da mineradora Vale e das
siderúrgicas, instaladas há mais de trinta anos na Amazônia oriental
brasileira.<br />
"Essas empresas destruíram nossa história. Elas
trituram nossa memória junto com as escórias de minério, a contaminam
com a fumaça de sua poluição", ecoa Joselma, que já esteve na ONU, em
Genebra, para denunciar essas violações.<br />
<br />
As mulheres de
Piquiá têm escrita em sua pele uma história que se encontra, bem
semelhante, em várias outras partes da Amazônia. É o conflito entre dois
modelos: aquele do saque, extrativismo predatório de empresas e poder
público, imposto de fora às comunidades, e aquele da convivência com o
bioma, em defesa do território, que é o espaço das raízes de uma
comunidade.<br />
Os trens da Vale, que extraem minério de ferro das
entranhas da floresta e o exportam para a China e a Europa, arrancam
também a história do povo, um grão de cada vez, 200 milhões de toneladas
por ano.<br />
<br />
Pouco a pouco, tudo se torna igual, nessas
intrusões do "progresso" no bioma amazônico: grandes fazendas,
monocultura, gado, mineração, imensos corredores de exportação...<br />
O
ciclo da natureza é marcado pela semeadura, a espera, a colheita, o
agradecimento e a partilha. O caminho da vida é fecundar, gerar, educar,
criar, curar e morrer.<br />
Mas o esquema capitalista é fixo, sempre igual, nos domina e nos prende: saquear, produzir, consumir, descartar.<br />
<br />
Mesmo
assim, Papa Francisco não está desanimado: "Muito! Podem fazer muito.
Vocês, os mais humildes, os explorados, os pobres e os excluídos, podem e
já fazem muito. Atrevo-me a dizer que o futuro da humanidade está, em
grande medida, em suas mãos, em sua capacidade de se organizarem e
promoverem alternativas criativas (...) e em sua participação como
protagonistas nos grandes processos de mudança".<br />
No 2º encontro
mundial com os movimentos populares, o Papa ressaltou que a história é
feita pelos pequenos. São os únicos que conseguem escrever nas
entrelinhas, falar outras línguas, imaginar novas gramáticas, preservar a
diversidade criativa.<br />
<br />
Piquiá confirma isso: há 14 anos
vem resistindo em uma luta contra gigantes. A comunidade não se
resignou à alternativa diabólica entre o direito ao trabalho ou à saúde.<br />
Disse
não, infiltrou-se como um grãozinho na engrenagem dessa economia que
mata. Está denunciando essa violência em nível nacional e internacional,
exige reparação integral.<br />
Ganhou o direito a um novo bairro, para
todos, em uma região livre da poluição. Está construindo uma nova
história, sem cortar suas raízes.<br />
<br />
Papa Francisco olha
para a Amazônia não apenas para preservá-la, como um dos últimos
bastiões de resistência ao extermínio da biodiversidade e ao aquecimento
global.<br />
Acima de tudo, ele sente que o novo está em gestação na
Amazônia, escondido nas percepções dos povos indígenas e das comunidades
tradicionais, na relação integral de suas sociedades com a Mãe Terra.
Talvez o Sínodo nos ajude a compreender isso melhor.<br />
<br />
<br />
<br />
<br />
<i>Conheça a situação de Piquiá de Baixo em: www.piquiadebaixo.com.br </i><br />
<br />
<i>Este artigo foi publicado em: <br />http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/591615-resistencia-e-profecia-na-amazonia</i><br />
<i>Foto: Marcelo Cruz</i></div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-23914123028067225032019-03-17T10:21:00.002-07:002019-03-17T10:22:01.684-07:00De Suzano à Nova Zelândia: palavra à não violência<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQd5L-LAY6zCm1GbUdEgFGTlVWJ-ohylMizvlCkGPf1LYRbLpg9z0semSFI4oz4tqFg9v-WzWsejaDOxiIA33kzbDVZFW46uIw2zOKWu_9Bah2Rdyqn3cp04z5gfF7i2ovnDpW9ANbD5e3/s1600/ghandi.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="352" data-original-width="431" height="261" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQd5L-LAY6zCm1GbUdEgFGTlVWJ-ohylMizvlCkGPf1LYRbLpg9z0semSFI4oz4tqFg9v-WzWsejaDOxiIA33kzbDVZFW46uIw2zOKWu_9Bah2Rdyqn3cp04z5gfF7i2ovnDpW9ANbD5e3/s320/ghandi.JPG" width="320" /></a></div>
"Se alguém te bate na face direita, ofereça a outra". Parece absurdo, e com isso chamam nós cristãos de loucos. Ingênuos e utopistas. <br />
"Neste mundo precisa ser espertos", dizem. "Precisa se defender. Armar-se, proteger-se!"<br />
<br />
Os fatos desta semana, desde Suzano à Nova Zelândia, mostram que a loucura está do outro lado.<br />
Em comum, eles têm o culto às armas, o elogio da violência.<br />
O discurso de ódio é triunfante. É o segredo dos atores políticos de hoje, que se afirmaram não em base a suas propostas, mas pela construção de inimigos e a pauta única do enfrentamento.<br />
<br />
"Amai vossos inimigos". É outro absurdo: por definição o inimigo é alguém que colocamos fora do círculo de nosso amor.<br />
O que significa, este chamado de Jesus? <br />
Surpreender o inimigo com gestos e atitudes inesperadas.<br />
Se gritar, abaixe a voz: force-o a dialogar com respeito.<br />
Se agredir, responda com firme dignidade não violenta. Sou gente, que nem você!<br />
Antecipe, seja inesperado e surpreendente. Se a relação se congelou, deixe despontar, de graça, um gesto de acolhida, uma pequena atitude de serviço. É incrível o tanto que este primeiro passo pode fazer, para desmontar o agressor.<br />
Se for complicado demais, se a inimizade estiver muito consolidada, exercite-se com a oração, que é o esforço de entrar no coração da outra pessoa, para colocá-la no coração de Deus.<br />
<br />
Armar os professores nas escolas? É o caminho da porta larga.<br />
A porta estreita, mais trabalhosa, mas que leva à vida, é outra: escolas menores, menos alunos por sala de aula, visitas periódicas (integrando escola e equipes de saúde e assistência social) às famílias, políticas de inclusão e acolhimento, atendimento direto e constante de situações de violência e abandono social.<br />
Isso é políticas públicas. Que bom que, neste ano, a Igreja nos provoca a refletir sobre isso!<br />
Até Deus tem suas "políticas públicas": Ele faz nascer o sol sobre todos, justos e injustos. Faz chover para todos. <br />
Talvez queira nos dizer que a violência está acontecendo porque, cada vez mais, o sol é para poucos; tomaram posse até da chuva...<br />
<br />
Sim, é difícil. Também Jesus, morto na cruz por não responder com violência, pareceu falir. O consideraram um derrotado.<br />
Mas a força de Deus se manifesta na fraqueza. Crucificado por esta "fraqueza", Jesus vive pela potência de Deus.<br />
O caminho da não violência, que parece louco e absurdo, é o único para que a vida vença!</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-52314842032642720292019-02-16T07:10:00.000-08:002019-02-16T07:11:09.876-08:00Reflexões sobre o crime da Vale em Brumadinho<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaxqY8PBh4XJ9w3-KydCjcWrtWgceSorFcKYpiGvPOrNOrC19sLXOgyhgcjh1d-X-VoL55_YGa6pXQa-1q5kKqOAp2ATuXr5HFWQvS1bBcJJR564qYq6Cn63Po14AmMQ7rSSdyt4kK1Z_I/s1600/brumadinho.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="168" data-original-width="300" height="223" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhaxqY8PBh4XJ9w3-KydCjcWrtWgceSorFcKYpiGvPOrNOrC19sLXOgyhgcjh1d-X-VoL55_YGa6pXQa-1q5kKqOAp2ATuXr5HFWQvS1bBcJJR564qYq6Cn63Po14AmMQ7rSSdyt4kK1Z_I/s400/brumadinho.jpg" width="400" /></a></div>
<br />
<b>IHU On-Line – O Brasil soma mais de 70 regiões com conflitos relacionados à mineração. Como rede Igrejas e Mineração tem acompanhado os conflitos entre mineradoras e populações locais no Brasil e na América Latina? O que tem sido feito?</b><br />
<br />
A rede Igrejas e Mineração, em estreita colaboração com o Grupo de Trabalho da CNBB sobre Mineração, está completando um mapeamento de todos os empreendimentos minerários no País, destacando aqueles onde há conflitos com as comunidades locais. Estamos identificando mais de 70 dioceses ou prelazias do Brasil onde existem conflitos por mineração. É um dado alarmante, que abre ainda mais os olhos da Igreja sobre sua missão de defesa da vida e da Criação. <br />
Por isso, estamos oferecendo assessoria a bispos, sacerdotes, religiosas-os e cristãos leigos e leigas em diversos territórios. Em novembro de 2018, convocamos um “Encontro das comunidades atingidas por mineração em diálogo com a Igreja no norte e nordeste”. Foi na comunidade de Piquiá (MA), internacionalmente conhecida pelas violações de direito que sofre e pela resistência que soube articular, abrindo novos caminhos de libertação.<br />
No ano passado, a rede Igrejas e Mineração promoveu também um seminário internacional de reflexão e debate sobre ecoteologia e mineração. Aproximou-se às comunidades atingidas por mineração em Paracatu (MG) e somou-se ao acompanhamento delas.<br />
Já atuávamos, a partir de outras articulações, em Brumadinho (MG). Desde aquele trágico 25 de janeiro, estamos no município, presentes ao lado das famílias, em suporte à igreja local. <br />
<br />
A Igreja está presente e frequentemente tem raízes profundas na vida do povo; conhece seu sofrimento e, em vários casos, tem tomado posições corajosas e claras em denúncia das violações da mineração, reivindicando direitos, proteção, reparação integral dos danos e respeito da vida.<br />
A recente Carta Pastoral da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM), “Discípulos missionários guardiões da casa comum”, aprofunda entre outros temas os desafios e as contradições da mineração, apontando para a missão da Igreja nestes contextos. A Carta foi escrita com a colaboração da rede Igrejas e Mineração, que está contribuindo também para sua divulgação em América Latina. <br />
A partir deste importante subsídio, e considerando a urgência e gravidade dos conflitos no Brasil, estamos tentando organizar um encontro dos bispos de dioceses em conflito com a mineração. <br />
<br />
Assim, nossa missão é estar próximos aos atingidos-as, formar consciência crítica, assessorar as igrejas, revelar a insustentabilidade do modelo extrativo.<br />
Recentemente, começamos a aprofundar também a dimensão financeira da economia mineira. Além do valor do minério extraído e comercializado, uma das fontes de maior lucro das mineradoras é o mercado financeiro, que responde a regras diferentes e desvinculadas das operações com a matéria prima.<br />
Por exemplo, entre o crime ambiental de Mariana (2015) e aquele de Brumadinho (2019), em pouco mais de três anos, o valor de mercado da Vale mais que triplicou, chegando a quase 290 bilhões de reais. A empresa teve lucro líquido de 42 bilhões. Mesmo assim, entre 2015 e 2016, reduziu do 44% seus investimentos em ações de saúde e segurança.<br />
Indignados por esta lógica de obediência aos mercados financeiros, através da rede Igrejas e Mineração estamos lançando uma campanha de desinvestimento de dinheiro dos capitais das mineradoras.<br />
<br />
<b>IHU On-Line – A tragédia humana e ambiental de Brumadinho, em Minas Gerais, não chega a ser uma surpresa, afinal não faltaram alertas dos riscos. Entretanto, o que significa o episódio em termos sociais e ambientais?</b><br />
<br />
Há evidências que tanto a empresa Vale S.A. como o Estado tinham informações sobre o perigo da barragem da mina Córrego do Feijão desmoronar.<br />
Por isso, chamamos este evento de crime, para o qual exigimos rápida responsabilização dos atores envolvidos, sendo processados criminalmente. Mariana nos ensinou que a impunidade consolida o crime.<br />
A Articulação Internacional das Atingidas e Atingidos pela Vale também fez duas denúncias à Comissão de Valores Mobiliários, solicitando a destituição da inteira diretoria da empresa. <br />
<br />
Os mitos da mineração sustentável, da tecnologia de ponta capaz de prevenir qualquer tipo de incidente, da responsabilidade sócio-ambiental das grandes mineradoras, derreteram-se em poucos minutos, em Brumadinho.<br />
A Vale e muitas empresas investem muito para alimentar estes mitos. Bastante dinheiro foi destinado à propaganda, e também (até quando foi legalmente possível) ao financiamento de partidos e candidatos.<br />
As comunidades, entidades e movimentos sociais que criticam estes mitos são constantemente hostilizadas, deslegitimadas e até caluniadas, espionadas ou perseguidas judicialmente. As comunidades sentem-se inescutadas e desrespeitadas.<br />
Mas estes mitos, que encheram a boca das mineradoras, desmoronaram em cima da vida de centenas de pessoas, e estão ainda rolando, rio abaixo, contaminando inteiras bacias.<br />
<br />
Os crimes da Samarco e da Vale ensinam também que há uma aliança silenciosa entre empresas de mineração e Estado. As companhias extrativas precisam do aval do Estado para se instalarem e operarem, muitas vezes ignorando ou banalizando o processo de consulta e consentimento prévio, livre e informado das comunidades. O Estado precisa da mineração porque continua apostando nisso, aparentemente como uma das atividades de mais “seguro” e rápido desenvolvimento.<br />
Mais que criticar a “indústria de multas do Ibama”, em nossa opinião, o Governo deveria perseguir a fábrica de licenças ambientais aceleradas, suspender o processo de flexibilização das leis ambientais, reverter o desmonte das instituições públicas voltadas à defesa e promoção dos direitos sócio-ambientais. <br />
Ao contrário, quem vem sendo atacadas são exatamente as organizações empenhadas na defesa do meio ambiente e, mais recentemente, até a própria Igreja Católica, que há muito tempo está acompanhando as vítimas da injustiça ambiental, com a liberdade da vocação que lhe vem do Evangelho.<br />
<br />
Não podemos esquecer, enfim, que o grito de Mariana e Brumadinho não é isolado. Há muita violência que está acontecendo gota a gota, no silêncio e na invisibilidade das periferias, que são as “zonas de sacrifício” do capitalismo. Há barragens que matam sem desmoronar, pela contaminação de bário em Araxá (MG), ou de arsênio em Paracatu (MG), por exemplo.<br />
O trem de minério da Vale no corredor de Carajás continua a atropelar e matar animais e pessoas (foram 47 pessoas mortas e mais de 100 feridos, nos últimos 15 anos); uma reportagem da Agência Pública, recentemente, demonstrou que a empresa avalia se atender a demanda por segurança da população não tanto em base ao perigo real, mas pelo cálculo de cenários que avaliam, entre outros elementos, o dano à imagem da empresa, em caso aconteçam acidentes.<br />
<br />
<b>IHU On-Line – Quais são as engrenagens políticas que colocam em funcionamento a máquina de moer o meio ambiente, os animais e as pessoas?</b><br />
<br />
Há tempo, o Comitê em Defesa dos Territórios frente à Mineração documenta as dimensões e os interesses da “bancada da mineração” no Parlamento brasileiro. Apesar de muitas críticas da sociedade civil organizada, dos sindicatos e dos ambientalistas, o Governo Temer aprovou com uma sequência de decretos, entre 2017 e 2018, o novo Marco Legal da Mineração, com o objetivo de “contribuir para a atratividade do setor, imprimindo maior transparência, agilidade e segurança jurídica ao setor mineral brasileiro”.<br />
O passo seguinte pode ser a flexibilização da legislação sobre mineração em faixa de fronteira. O novo presidente eleito e seu Governo têm interesses para liberar a mineração em terras indígenas. As mineradoras já registraram pedidos de pesquisa e exploração para um quarto das terras indígenas da Amazônia Legal (território correspondente à dimensão dos estados e SP e RJ).<br />
Assim, em lugar de buscar a diversificação e transições econômicas que nos liberem da dependência do modelo extrativo, o Brasil mostra querer investir ainda mais nesta pauta, que não podemos mais definir produtiva, mas destrutiva!<br />
Há uma engrenagem interessante, que em jargão é definida “as portas giratórias da mineração”. As companhias mineradoras, através de sua influência econômica, conseguem instalar no Governo seus representantes; em paralelo, empregam quadros ligados à burocracia do Estado. O jogo está feito: os interesses de ambos estão garantidos, e as grandes empresas conseguem, desta maneira, controlar, além do Congresso, também o governo e a Agência Nacional de Mineração. Nos últimos quatro anos, por exemplo, todo o segundo escalão do Ministério de Minas e Energias estava controlado pela Vale. <br />
<br />
<b>IHU On-Line – Como a sociedade civil tem se organizado para combater o lobby das mineradoras, madeireiros, agropecuaristas e empresas interessadas na exploração hidrelétrica?</b><br />
<br />
Estamos tentando entrelaçar estratégias complementares; existem diversas redes e entidades que atuam em defesa das comunidades, na denúncia das violações de direitos e dos interesses elitistas do lobby das grandes empresas extrativas. <br />
Nos territórios, há movimentos e pastorais sociais empenhadas ao lado dos atingidos-as. Eu, por exemplo, atuo há onze anos junto à rede Justiça nos Trilhos, empenhada no Corredor de Carajás, que recebeu recentemente o prêmio internacional “Direitos humanos e empresas”, na ONU em Genebra. <br />
Uma menção de honra é para o trabalho corajoso, fiel e competente que há muitos anos desenvolvem a Comissão Pastoral pela Terra (CPT) e o Conselho Indigenista Missionário (CIMI).<br />
Há, depois, entidades e redes que estudam e denunciam as “ligações perigosas” entre poder econômico e político: entre elas, destaco o Comitê em Defesa dos Territórios frente à Mineração. Neste campo, precisa resgatar a transparência, a defesa e promoção dos bens comuns, características de uma política de grande respiro: “a política não deve submeter-se à econo¬mia, e esta não deve submeter-se aos ditames e ao paradigma eficientista da tecnocracia. Pensan¬do no bem comum, hoje precisamos imperiosa¬mente que a política e a economia, em diálogo, se coloquem decididamente ao serviço da vida, especialmente da vida humana” (LS 189).<br />
A Igreja Católica, desde 2017, criou o Grupo de Trabalho sobre Mineração, em assessoria à CNBB: há um trabalho urgente e permanente de conscientização, para que as dioceses e paróquias tenham argumentos e orientações a partir dos quais tomar posição ao lado das vítimas, em conflitos provocados pela mineração.<br />
A Rede Eclesial Panamazônica (REPAM) atua junto a numerosas comunidades na Amazônia, escutando o grito, às vezes desesperado, de comunidades ameaçadas ou atingidas pelo extrativismo. Constata-se que os principais atores que ameaçam a Amazônia e os outros biomas do País são corporações de capital internacional, ou empresas nacionais que exportam quase por inteiro sua produção, contribuindo ao processo de reprimarização da economia nacional, a benefício dos clientes estrangeiros.<br />
<br />
<b>IHU On-Line – De que ordem são os desafios de sensibilizar a população para a necessidade de uma transição que vise um modelo econômico pós-extrativista?</b><br />
<br />
A Carta Pastoral da Conferência Episcopal Latino-Americana (CELAM) define extrativismo como “uma tendência desenfreada do sistema econômico de converter os bens da natureza em capital”. Papa Francisco alerta, de muitas formas, para a urgência de por um limite a esta tendência: “o que interessa é extrair o máximo possível das coisas por im¬posição da mão humana (...) Passa-se facilmente à ideia dum crescimento infinito ou ilimitado, que tanto entusiasmou os economistas, os teóricos da finança e da tecnologia. Isto supõe a mentira da disponibilidade infinita dos bens do planeta, que leva a «espremê-lo» até ao limite e para além do mesmo” (LS 106).<br />
O pós-extrativismo é um modelo de política macroeconômica que busca uma mudança radical no sistema de produção e consumo. Propõe e organiza transições, de um modelo saqueador dos recursos para um modelo pautado na economia local, na produção de bens duráveis, na diminuição do consumo, no desenvolvimento de uma noção de limites de produção e na reutilização de recursos. Pretende, assim, delimitar a mineração ao essencial, e reduzir também a circulação das matérias primas através do globo inteiro.<br />
Resgata a produção ligada ao território, e, com isso, a valorização das raízes e da sabedoria dos povos. Visa recuperar as relações regionais entre países, redimensionando o modelo exportador, a partir da satisfação das necessidades econômicas mais imediatas.<br />
Dialoga com o modelo de decrescimento, que também a encíclica Laudato Si propõe como a alternativa mais eficaz para desmontar o capitalismo, “economia que mata”, como frequentemente lembra o Papa. “A espiritualidade cristã propõe um crescimento na sobriedade e uma capacidade de se alegrar com pouco. É um regresso à simplicidade que nos permite parar a saborear as pequenas coisas, agradecer as possibilidades que a vida oferece sem nos apegarmos ao que temos nem entriste¬cermos por aquilo que não possuímos. Isto exige evitar a dinâmica do domínio e da mera acumu¬lação de prazeres” (LS 222).<br />
Sendo o extrativismo um sistema que chega a sugar energias e vidas da Criação inteira, o pós-extrativismo é uma opção profética, que requer também o cultivo de uma espiritualidade profunda, capaz de resgatar a essência das coisas e das relações.<br />
<br />
<b>IHU On-Line – Em entrevista ao Roda Viva, o ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles afirmou que Chico Mendes “é irrelevante”. O que a postura ilustra sobre a pauta ambiental do atual governo?</b><br />
<br />
As vítimas são irrelevantes para este sistema. <br />
Tem uma página da exortação apostólica Evangelii Gaudium que é muito forte: “O ser humano é considerado, em si mesmo, como um bem de consumo que se pode usar e depois lan¬çar fora. Assim teve início a cultura do «descar¬tável», que aliás chega a ser promovida. Já não se trata simplesmente do fenómeno de exploração e opressão, mas duma realidade nova: com a ex¬clusão, fere-se, na própria raiz, a pertença à so¬ciedade onde se vive, pois quem vive nas favelas, na periferia ou sem poder já não está nela, mas fora. Os excluídos não são «explorados», mas re¬síduos, «sobras»” (EG 53).<br />
Assim, os seringueiros são considerados irrelevantes, os quilombolas descartáveis, os indígenas sobras a serem integradas. Mas a morte de cada vítima, quando se faz memória, mobiliza as pessoas, consolida a indignação, unifica as reivindicações, exige justiça.<br />
Podem-se barganhar os interesses de quem especula com o meio ambiente, pode-se resistir por um tempo nos equilíbrios precários do poder, mas a dignidade das vítimas, seu legado e seu apelo à resistência são permanentes, e não se contaminam por estas poucas palavras sem relevo. <br />
<br />
Fonte: IHU Online, 13 de fevereiro de 2019<br />
http://www.ihu.unisinos.br/586643-brumadinho-a-avalanche-de-impunidade-que-consolida-o-crime-e-mata-inocentes-entrevista-especial-com-dario-bossi </div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-29776544388480370192018-12-29T10:27:00.002-08:002018-12-29T10:28:21.984-08:00Um ano em breves vídeos<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhv6rqIfQnNKuPHDJ59qe32AjUv3Nf657mbvu_B4kNCfO8Sv-pcdHMmRbTsipKRDCcsGIpSWBOAuUoROj4cw8Qrj09jyTn4xbtCfgdrlkUZx3HNu1-hilmRB2fau7VCTLEUkZtqOgJQb-Rq/s1600/miss%25C3%25A3o+e+logo.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="346" data-original-width="466" height="237" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhv6rqIfQnNKuPHDJ59qe32AjUv3Nf657mbvu_B4kNCfO8Sv-pcdHMmRbTsipKRDCcsGIpSWBOAuUoROj4cw8Qrj09jyTn4xbtCfgdrlkUZx3HNu1-hilmRB2fau7VCTLEUkZtqOgJQb-Rq/s320/miss%25C3%25A3o+e+logo.JPG" width="320" /></a></div>
<br />
<br />
Como memória da caminhada realizada em 2018, compartilho (de trás para frente) as breves mensagens vídeo que todos os meses divulgamos, para as tantas pessoas no Brasil que se reconhecem no carisma comboniano.<br />
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<br />
Dezembro: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=oWAwEBEGKiI">a encarnação e os direitos humanos</a>.<br />
<br />
Novembro: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=bjj6wM-Bx_w">a oração transforma o mundo</a>.<br />
<br />
Outubro: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=iCedFvvfGRk">as eleições e a participação</a>.<br />
<br />
Setembro: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=i-ZF9HKpFeg">Daniel Comboni e a sociedade de hoje</a>.<br />
<br />
Agosto: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=4hNPAz7VqcM">Padre Ezequiel profeta de esperança</a>.<br />
<br />
Julho: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=DSyPzDpA0eg">A missão comboniana na Amazônia</a>.<br />
<br />
Junho: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=R1zv2-z2rvM">Os cristãos dão uma direção à sociedade</a>.<br />
<br />
Maio: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=FGB3gJvCssI">Maria, nossa mãe e padroeira do Brasil</a>.<br />
<br />
Abril: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=SyIBYFING-s">As juventudes e seu espírito missionário</a>.<br />
<br />
Março: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=94xC3uiV9vM">A Campanha da Fraternidade para a superação da violência</a>.<br />
<br />
Fevereiro: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=g3GOOKrogQQ">Mutirão para a justiça</a>.<br />
<br />
Janeiro: <a href="https://www.youtube.com/watch?v=O-0EKs6yOg8">Leigos e leigas na sociedade e na igreja</a>.<br />
<br />
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pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com3tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-51153143524241920942018-12-10T17:03:00.002-08:002018-12-10T17:04:29.340-08:00Nota de Solidariedade às vítimas no acampamento dom José Maria Pires<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnAXAHGgj6YNY7nQ-I3VwhchjO-UoqkPAieClEEiXWY0g3ofk6qoWw6jJPqs1fbVwy1DyvX8bUt25SEitEcmu_j_vOmCZqlPGVpXIRnnSKquMkTOI0vKaSc0pqOqajNHEnV06UyVOrDpUA/s1600/mst.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="192" data-original-width="263" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgnAXAHGgj6YNY7nQ-I3VwhchjO-UoqkPAieClEEiXWY0g3ofk6qoWw6jJPqs1fbVwy1DyvX8bUt25SEitEcmu_j_vOmCZqlPGVpXIRnnSKquMkTOI0vKaSc0pqOqajNHEnV06UyVOrDpUA/s320/mst.jpg" width="320" /></a></div>
<i>“Ai daqueles que, deitados na cama, ficam planejando a injustiça e tramando o mal! É só o dia amanhecer, já o executam, porque têm o poder nas mãos” (Miquéias 2,1).</i><br />
<br />
Para os cristãos, Advento é tempo de espera ativa e de escuta dos sinais dos tempos. Na história há inúmeros sinais de vida, esperança e cuidado que precisam ser compartilhados para que não se perca o Espírito que os gera. Precisamos, porém, identificar, denunciar e exorcizar os sinais de morte, para que não dominem e diminuam nossos ânimos e não se instalem definitivamente em nossa sociedade.<br />
<br />
Hoje, enquanto celebramos os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, estamos de luto e com a alma ferida por duas vidas brutalmente tiradas do nosso meio. O fato aconteceu no dia 8 de dezembro no acampamento Dom José Maria Pires, município de Alhandra, na Paraíba. Os companheiros José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino foram covardemente assassinados por homens encapuzados e armados enquanto as famílias estavam jantando.<br />
<br />
Nessa região, 450 famílias estão produzindo alimentos numa terra que foi encontrada abandonada, totalmente improdutiva, e que havia se tornado apenas um bambuzal, propriedade do grupo Santa Tereza.<br />
O fato é tão grave que até a Procuradoria Geral da República, a Procuradoria Geral dos Direitos do Cidadão e a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão na Paraíba publicaram uma nota de solidariedade às famílias das vítimas, e de repúdio, denunciando “o contexto sombrio de violência contra os movimentos sociais”. De fato, os movimentos sociais, as comunidades e os povos que clamam pelo direito a terra, casa, trabalho e pão são constantemente criminalizados, ameaçados, expulsos e mortos e, muitas vezes, acusados injusta e levianamente de terrorismo. <br />
<br />
A verdade é que a reforma agrária, a distribuição das terras improdutivas, a integração das famílias no campo, a demarcação das terras indígenas e a proteção dos territórios das comunidades tradicionais quilombolas, a agricultura familiar e agroecologia são caminhos sustentáveis indispensáveis para mitigar a violência crescente no País, especialmente nas periferias das grandes cidades, além de contribuir com a segurança alimentar.<br />
<br />
No dia 9 de dezembro, o Presidente eleito indicou Ricardo Salles como futuro Ministro do Meio Ambiente. Com denúncias de improbidade administrativa e fraudes em favor das empresas quando era Secretário Estadual do Meio Ambiente em São Paulo, muito próximo aos ruralistas, Salles relativiza o perigo do aquecimento global e poderá adequar a agenda do Meio Ambiente aos mandos do Ministério da Agricultura, que melhor deveria ser chamado “do Agronegócio”. <br />
Em campanha eleitoral, este político associava o enfrentamento “à esquerda e ao MST” ao uso de balas. <br />
<br />
É preciso exorcizar e inibir desde o começo estes sinais de morte e discurso de ódio que incentivam a violência, a difamação e calúnia, a eliminação física dos “adversários” e a impunidade. Nesse dia de luta, luto e pesar, a Articulação Comboniana de Direitos Humanos (ACDH) se junta aos movimentos sociais, às comunidades de agricultores e trabalhadores, aos defensores e defensoras de direitos e ao Ministério Público Federal para clamar pela vida, justiça social e proteção das lideranças e de todas as pessoas.<br />
<br />
O crime de Alhandra precisa ser investigado e os culpados imediatamente punidos. A postura agressiva e violenta de muitos integrantes do futuro Governo deve ser constantemente reprimida pelas Instituições. Os Direitos Humanos não são bandeira de um partido, ou só de alguns militantes, mas a ‘Carta Magna’ da civilização e a garantia de um futuro de paz para essa e as novas gerações.<br />
<br />
Em solidariedade, indignação e resistência,<br />
<i>A Articulação Comboniana de Direitos Humanos<br />São Paulo, 10 de Dezembro de 2018.</i></div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-1755373285861280512018-12-09T06:17:00.005-08:002018-12-09T06:17:51.960-08:0070 anos da Declaração Universal de DH<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1G1CHoiLf9Q4M75CmWbF5jcgSzqGd02ZnAnP_iMY8CezIKiAT-rMrwXuTl_0irgUU4hboZLmifImIKMr4Xa6XyURCNa1ITX5vuprVQIzgltGSKVRjZL0koC5yHs13rrHFAiJ0-eQgcDp9/s1600/dh.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="182" data-original-width="276" height="211" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg1G1CHoiLf9Q4M75CmWbF5jcgSzqGd02ZnAnP_iMY8CezIKiAT-rMrwXuTl_0irgUU4hboZLmifImIKMr4Xa6XyURCNa1ITX5vuprVQIzgltGSKVRjZL0koC5yHs13rrHFAiJ0-eQgcDp9/s320/dh.jpg" width="320" /></a></div>
<b>70 ANOS DA DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS: Celebração e novos desafios<br /><br /><i>Pronunciamento da Articulação Comboniana de Direitos Humanos </i></b><br /><br />No dia 10 de dezembro de 2018 celebramos os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Essa é também uma boa ocasião para recordarmos s 30 anos da Constituição Federal, a mais democrática que o Brasil já escreveu, promulgada no dia 5 de outubro de 1988 e conhecida como ‘Constituição Cidadã’. <br /><br />Esses documentos em favor da vida, da dignidade e liberdade, assim como de outros direitos fundamentais de todas as pessoas, foram construídos à custa de muitas lutas, vidas tiradas, famílias dilaceradas e sonhos interrompidos. Graças a esses documentos e à organização dos movimentos sociais frente aos compromissos assumidos pelo Estado brasileiro, a dignidade de milhões de pessoas foi elevada, direitos e deveres foram promovidos, sofrimentos impedidos e os fundamentos de uma sociedade mais democrática, justa e igualitária foram construídos.<br /><br />Temos muitas conquistas a celebrar e muitos desafios a serem enfrentados. Além das práticas comuns de abuso e violações de direitos, vemos ressurgir na sociedade brasileira um cenário, discursos e práticas que não só ameaçam, mas esvaziam os conteúdos da Declaração Universal dos Direitos Humanos e da Constituição Federal, pela retirada sistemática e a supressão de direitos, a exaltação do ódio e da violência e a exclusão das minorias. Isto se observa claramente nos pensamentos e ações de indivíduos e grupos, inclusive religiosos, que chegaram ao poder político e econômico do País nas últimas eleições. O momento é de celebração e de resistência. <br /><br />Nesse contexto, leigos/as e religiosos/as que compõem a Articulação Comboniana de Direitos Humanos (ACDH), através desse pronunciamento, se dirigem a você, à sua comunidade, grupo ou movimento para partilhar preocupações e esperanças.<br /><br />A linha do tempo nos ensina que a história é feita de ciclos. Em alguns deles a defesa da vida parece mais desafiadora. No Brasil, por um curto período, a classe trabalhadora deu passos importantes para tirar do texto formal os direitos fundamentais e assegurar algumas proteções aos historicamente mais marginalizados, mesmo sem tocar na zona de conforto da elite e de seus agregados. Isso acabou provocando a elite brasileira, que mostrou o que ela tem de pior e nefasto. Nunca na história de períodos democráticos nesse País, houve tanta afronta e desprezo explícitos aos direitos humanos. <br />Conquistas ainda em fase de consolidação estão gravemente ameaçadas, principalmente em nome do desenvolvimento econômico.<br /><br />Comunidades tradicionais, como as indígenas e quilombolas, são um dos grupos depreciados em quase todos os pronunciamentos do Presidente recém-eleito. O Congresso brasileiro se distancia, a passos largos, de qualquer proposta que coloque as instituições públicas a serviço do bem comum. O Judiciário, guardião e promotor do direito e da justiça, em algumas de suas práticas deixa dúvidas quanto à sua imparcialidade. A maioria das lideranças religiosas serve aos interesses da elite política e econômica em troca de prestígio, conforto e fama, usurpando e deturpando os nomes de “evangélico” e “cristão” e em nome da moral e da família. Parecem desconhecer a autoridade religiosa, amorosa e ética do Papa Francisco e as inspirações e valores cristãos contidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na Constituição Federal.<br /><br />Nesse preocupante cenário de desmonte de direitos, devastação e morte, em que a mídia tradicional presta um enorme desserviço, é preciso conectar as nossas experiências, saberes, lutas e utopias às de outras pessoas e grupos, para que, de norte a sul, do campo à favela, a resistência seja propositiva e avance na construção de estratégias em defesa da vida e dos demais direitos. <br /><br />A exemplo de Jesus de Nazaré, estamos convencidos/as que é preciso nos colocar a serviço dos marginalizados e oprimidos. Não falamos somente de disposição caritativa, cuja essência carrega uma grande dose de subalternidade do/a outro/a, mas da transformação radical da realidade, pela educação e organização popular, que devolvem dignidade às pessoas perseguidas ou exploradas.<br /><br />Trabalhamos na perspectiva da utopia de uma sociedade sem subserviência. Utopia! Palavra pouco apreciada no dicionário do sistema de morte perpetrado pelo capitalismo selvagem, mas viva para todas as pessoas e coletivos que seguem perseverantes na construção de uma sociedade onde a humanidade da família campesina, da operária empregada ou desempregada, do povo em situação de rua, da população encarcerada, das comunidades quilombolas e indígenas, das crianças e adolescentes abandonados à própria sorte, da juventude negra e periférica, prevaleça sobre os interesses econômicos.<br /><br />A Articulação Comboniana de Direitos Humanos (ACDH), particularmente nesse período de celebrações e de organização da resistência, se soma aos movimentos sociais e aos tantos coletivos, novos e velhos, de jovens e mulheres, na luta pela defesa incondicional da vida, dos direitos conquistados e na resistência contra toda forma de opressão, ódio e violência. Dizemos SIM à vida e aos direitos e reafirmamos nosso sonho e compromisso com a cultura de paz e com uma sociedade mais justa, pacífica e igualitária. <br /><br />São Paulo, 10 de Dezembro de 2018.</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-80169191065235131032018-10-28T17:53:00.002-07:002018-10-28T17:53:49.120-07:00Sentimentos e caminhos depois das eleições<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAOF-5nHX2tVwXd6B1iWt1JPnk0k_yiMrxwbe6W21CeILr5gvm55q5Xy_46Md8Jt3LpZ7rdpY-KB38kMRzN6Lmhyphenhyphen81pyX2XLx62OICy0FjxY6Y4I3iSe8srGzfau-uBfcwc2qhEon6CHb1/s1600/caminho.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="275" data-original-width="183" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhAOF-5nHX2tVwXd6B1iWt1JPnk0k_yiMrxwbe6W21CeILr5gvm55q5Xy_46Md8Jt3LpZ7rdpY-KB38kMRzN6Lmhyphenhyphen81pyX2XLx62OICy0FjxY6Y4I3iSe8srGzfau-uBfcwc2qhEon6CHb1/s320/caminho.jpg" width="212" /></a></div>
Juntos nesses dias sonhamos, refletimos e dialogamos, tentamos resistir à onda de superficialidade, mentira, ódio e raiva que acabou dominando os debates.<br /><br />As eleições deram seu veredicto, mas o clima de agressividade e violência pode perdurar, seja nas decisões políticas que poderão ser tomadas a partir de janeiro, seja no descontrole das pessoas nas relações do dia a dia.<br /><br />Como Família Missionária Comboniana, inspira-nos o Coração de Jesus: ferido, aberto, não deixa de pulsar, não perde sua paixão, agrega-nos mais perto entre nós e aproxima-nos aos excluídos.<br /><br />Ficam para nós algumas missões desafiadoras:<br /><br />- voltar a falar de Deus purificando todas as manipulações. Convidar as pessoas a escutarmos sua voz de maneira mais profunda. Resgatar a profecia junto com a ternura, religar relações quebradas tentando honestamente contemplar o que nos sugere o Espírito;<br /><br />- confirmar nossa opção pelos mais pobres e abandonados, a primeira das obediências que nos propõe a imitação de Cristo. Organizarmo-nos mais para protegê-los, consolidar as motivações evangélicas e a análise crítica do contexto que sustentam nossa opção;<br /><br />- cultivar nossa humanidade, preservar a esperança, não ceder à banalidade do mal, não render-se à superficialidade ou à resignação. Conversar mais, dar mais tempo ao silêncio e à oração, buscar e compartilhar a beleza da arte, da amizade, das muitas maneiras para celebrarmos a vida.<br /><br />Um grande abraço, retomando a caminhada de cabeça erguida, junto a nossas comunidades!</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-18032381726412612732018-10-12T11:06:00.001-07:002018-10-12T11:06:30.152-07:00Há esperança<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidBlC9t513_yi0oyqTMC62d_3_BIuj0hnejraYba-wGwapLGAWZsFOAlIAq1CimdUxY7xx2RskpbSNQWqkl7o7IdogworDrKCKJd7eQt04CNfIlQkHs8em1uB78-8GMhk43TKQtZJ7pQHe/s1600/elen%25C3%25A3o.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="183" data-original-width="276" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEidBlC9t513_yi0oyqTMC62d_3_BIuj0hnejraYba-wGwapLGAWZsFOAlIAq1CimdUxY7xx2RskpbSNQWqkl7o7IdogworDrKCKJd7eQt04CNfIlQkHs8em1uB78-8GMhk43TKQtZJ7pQHe/s320/elen%25C3%25A3o.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
É como se estivéssemos correndo na rodovia, em alta velocidade, próximos a uma bifurcação. Aparece aquela angustia de não errar o caminho, pois –uma vez escolhida a direção errada- não dá mais para voltar atrás.<br />No carro que corre, perguntamo-nos alarmados: como pudemos chegar tão rapidamente até esse ponto?<br />O Brasil está dividido, as eleições não são ocasião para disputarmos projetos de futuro ou refletirmos sobre caminhos possíveis. Prevalece o ódio à política, o voto em muitos casos é um grito de protesto, um hino de estádio, uma bomba aprontada para estourar tudo.<br />Uma deformação somática da sociedade brasileira leva muitas pessoas a pensarem com a barriga, enxergarem com olhos velados pelo medo, agirem com o ódio injetado no sangue.<br /><br />Há séculos nossa sociedade está dominada pela divisão. O Brasil nasceu com a imposição colonial de um projeto de saque; desde então, para defender os privilégios de poucos, continuam sendo sacrificadas muitas pessoas.<br />Mas como é possível que tantos apoiem ainda hoje essa lógica sacrifical? Por que conseguimos tão pouco percorrer os caminhos de educação e libertação que Paulo Freire e seu movimento inspiraram?<br />O debate político e a formação da opinião pública, hoje, são fortemente influenciados pelos círculos de comunicação. Não se trata mais da comunicação linear que entrecruza pensamentos distintos, põe a confronto diversas leituras da realidade e pode levar as pessoas de um ponto de vista para outras interpretações da história.<br />A comunicação acontece cada vez mais entre grupos homogêneos, entre pessoas que partilham as mesmas ideias e que têm necessidade de sentir-se confirmadas por outros companheiros-as que as validem e reforcem.<br />Círculos impermeáveis, cada vez mais agressivos, que consideram o outro um inimigo. A campanha eleitoral de muitos candidatos se dá assim, reduzida a uma batalha de memes pelo <i>whatsapp</i>.<br />A escritora e jornalista Eliane Brum criou uma expressão específica para isso: da pós-verdade das <i>fake news</i> estamos passando à “auto-verdade”. Nessa nova lógica, o conteúdo não é relevante, é suficiente o ato de falar. Os acontecimentos, a verdade não importam. O simples fato de se manifestar com vigor, gritar e denunciar, propor soluções inviáveis mas populistas é considerado algo corajoso, honesto, autêntico. A estética, conclui Eliane, toma o lugar da ética.<br /><br />Mas o que nos dá esperança, nessas horas?<br />Muitas pessoas que quebram os círculos virtuais e retomam a praça como lugar de presença, encontro, manifestação, de cabeça erguida. Os grupos onde ainda se fala olhando-se nos olhos, estudando um tema com respeito, tentando escutar-se reciprocamente. As comunidades eclesiais de base onde a fé se abraça com a história, a Palavra inspira a vida e por ela é iluminada. As pastorais e os movimentos sociais que continuam acreditando que fora dos pobres não tem salvação, para a Igreja e para o mundo, e seguem corajosamente ao lado deles. Fazem do serviço aos excluídos e da educação popular libertadora uma profecia, também para a política. <br /><br />Entre as imagens de Brasil que não quero esquecer, nessas semanas de angustia, está aquela de milhões de mulheres que ocuparam as ruas no final de setembro. Marcharam de forma não-violenta e criativa, em muitas cidades do Brasil, para dizer não ao movimento fascista, racista e misógino que está se consolidando ao redor do candidato militar. Não defendiam um partido, tinham múltiplas pertenças e a coragem de manifestar. <br />Só a violência pode calar essa voz, e é isso o que está acontecendo. Pessoas agredidas, humilhadas, até mortas por terem afirmado sua crítica à sombra de ditadura que ameaça o País.<br />Estamos correndo em alta velocidade rumo a uma bifurcação. Se errarmos de caminho, não terá mais como voltar atrás. </div>
</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-34965786093740753522018-08-16T12:59:00.002-07:002018-08-16T13:02:33.511-07:00Um modelo econômico pós-extrativista para América Latina<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCvXruHShDQmoakblR1b2OH7oB0OCCMyUzWRF9tos_KN_FSXX19OcQUB1Obv-c5wSPItsUtKLUsDEBZp-P1p19vryOlKLKTGyCvyRkECukxaKQfq22OxMlKsoQ-Tp6GfbaduPwxM8GGIcg/s1600/caraj%25C3%25A1s.JPG" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="613" data-original-width="921" height="212" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCvXruHShDQmoakblR1b2OH7oB0OCCMyUzWRF9tos_KN_FSXX19OcQUB1Obv-c5wSPItsUtKLUsDEBZp-P1p19vryOlKLKTGyCvyRkECukxaKQfq22OxMlKsoQ-Tp6GfbaduPwxM8GGIcg/s320/caraj%25C3%25A1s.JPG" width="320" /></a></div>
“Muitos pensam que não é um problema para um país depender economicamente dos<b> recursos naturais</b> que tem à disposição em seu território”, diz <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/577808-tomar-posicao-nesse-tempo-de-conflito" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Dário Bossi</a> à <a href="http://www.ihu.unisinos.br/581816-america-latina-e-a-busca-de-um-modelo-economico-pos-extrativista-entrevista-especial-com-dario-bossi"><b>IHU On-Line</b></a>. </div>
<div style="text-align: justify;">
Entretanto, adverte, a pauta extrativista que visa à <b>exploração de bens naturais</b>
propicia ao país “um desenvolvimento instável, fortemente dependente
das flutuações dos preços internacionais das matérias-primas, de visão
curta e sem futuro, pela <b>finitude dos recursos</b> à disposição”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lamentavelmente, comenta, essa é a política que tem orientado muitos países da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/entrevistas/533720-o-modelo-neoextrativista-e-o-paradoxo-latino-americano-entrevista-especial-com-bruno-milanez" rel="noopener noreferrer" target="_blank">América Latina</a>, que são governados por partidos à <b>direita</b> e à <b>esquerda</b>. A consequência dessa opção, frisa, é que “vários <b>países latino-americanos</b> estão se desindustrializando por achar mais conveniente no curto prazo investir pesadamente no <b>extrativismo</b>. </div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
O <b>Brasil</b>
está experimentando uma das maiores desindustrializações da história,
em um período muito curto: nos anos 80 e 90 o setor industrial
representava 35% da produção nacional, mas hoje está abaixo dos 12% e
segue em diminuição”.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na avaliação de <b>Bossi</b>, a <b>América Latina</b> precisa de uma <a href="http://www.ihu.unisinos.br/170-noticias/noticias-2014/532342-e-uma-falacia-que-nao-ha-alternativas-e-que-devemos-nos-resignar-ao-extrativismo" rel="noopener noreferrer" target="_blank">alternativa pós-extrativismo</a>,
que “não significa proibir todas as formas de extrativismo, mas sim
redimensionar este setor, deixar de depender economicamente dele e
manter as operações que sejam realmente necessárias e tenham impactos
socioambientais aceitáveis”.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Na entrevista a seguir, concedida por e-mail, <b>Dário Bossi</b> também comenta o <b>Encontro com Afetados(as) pela mineração na América Latina</b>, que foi realizado entre 7 e 10 de agosto, em <b>Brasília</b>, e os impactos ambientais e sociais gerados pela mineração no Brasil.</div>
<div style="text-align: justify;">
O grupo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/noticias/549358-rede-iglesias-y-mineria-publica-nota-apos-ruptura-da-barragem-de-mariana" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Iglesias y Minería</a> é uma rede latino-americana de comunidades cristãs, religiosas e religiosos que, com o apoio de diversos bispos, da <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/573814-clamores-da-amazonia-ecoam-durante-seminario-geral-da-repam" rel="noopener noreferrer" target="_blank">Rede Eclesial Pan-Amazônica - Repam</a>, do <b>departamento Justiça e Paz da Conferência Episcopal Latino-Americana - Celam</b> e do <b>Consejo Latino Americano de Iglesias - Clai</b>, articula-se há dois anos para fazer frente aos <b>impactos da mineração</b>.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Leia a entrevista completa: </div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Quais foram os temas centrais debatidos no Encontro com Afetados (as)
pela mineração na América Latina, que foi realizado entre 7 e 10 de agosto?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A rede
Igrejas e Mineração já promoveu três grandes assembleias de comunidades
afetadas em América Latina. O recente encontro, convocado em Brasília, foi
iniciativa desta rede, do Departamento de Justiça e Solidariedade do Conselho
Episcopal Latino-Americano (CELAM), do GT Mineração da CNBB e da rede CIDSE (a
aliança internacional das agências católicas para o desenvolvimento).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Tratou-se
de um encontro temático, com o objetivo de qualificar e relançar a incidência
junto às igrejas a respeito dos graves impactos da mineração, a partir da
recente Carta Pastoral do CELAM “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">Discípulos
Misioneros, Custodios de la Casa Común</i>”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Esta
carta é a contextualização latino-americana da Laudato Si’ e é considerada um
marco importante para a Doutrina Social da Igreja em nosso continente. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Já foi
traduzida informalmente para o inglês, o francês e o alemão; por ocasião do
encontro de Brasília, a CNBB comunicou oficialmente que será também traduzida em
português e divulgada em todas as dioceses do Brasil.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Participaram
35 pessoas, de 8 países latino-americanos: leigas-os, religiosas-os e padres atingidos
e/ou comprometidos a serviço das comunidades. Estava presente também dom
Sebastião Duarte, bispo presidente do GT Mineração da CNBB. Iluminados e
incentivados pela Carta Pastoral, os participantes avançaram na definição dos
eixos de trabalho e dos compromissos das igrejas frente às violações e ameaças
da mineração nos territórios. Entre eles, relançou-se o empenho da comunicação a
serviço das comunidades e sua articulação em rede, o aprofundamento da ecoteologia
e da espiritualidade popular que alimenta a defesa da terra, a interação e
incidência com as hierarquias das igrejas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Também
foi apresentada a campanha “Desinversão Mineira”, que propõe uma
contranarrativa do modelo econômico sustentado pelas grandes empresas e convida
as instituições religiosas a retirarem seus investimentos do capital dessas
corporações. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Mas o
tema mais importante é o compromisso em defesa da vida em cada território
local. Foi por isso que nosso encontro em Brasília começou com uma visita a
campo, encontrando as comunidades atingidas de Paracatu-MG, e concluiu-se com
um envio de todos os participantes às comunidades de base e às suas igrejas
locais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"><i><span style="font-size: x-small;">(foto: dom Sebastião Duarte, presidente do GT Mineração da CNBB)</span></i> </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7Z44N5xqucimUF9pSfoviGqUnwcqpUc3hAdgz9nF2Y0NrMaN92miCxouU0MCNZLs2sXvLSuLiBklw4GRJiRmLMm4UI1IJeIpJL9_JClD9O-cSNXHhKToBgyp9UXaRwFI9wH2jlsr2HmU9/s1600/dom+Sebasti%25C3%25A3o+Duarte.jpeg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1032" data-original-width="774" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh7Z44N5xqucimUF9pSfoviGqUnwcqpUc3hAdgz9nF2Y0NrMaN92miCxouU0MCNZLs2sXvLSuLiBklw4GRJiRmLMm4UI1IJeIpJL9_JClD9O-cSNXHhKToBgyp9UXaRwFI9wH2jlsr2HmU9/s320/dom+Sebasti%25C3%25A3o+Duarte.jpeg" width="240" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> </span><b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Qual é o atual cenário da mineração
no continente Latino-Americano?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Desde a
época colonial nosso continente foi considerado um fornecedor de recursos para
o desenvolvimento alheio. Nos anos 90, especialmente, houve uma série de
grandes investimentos na mineração em América Latina, tornando esta
macrorregião o primeiro provedor mundial de muitos minerais, mas provocando
assim consequências em larga escala de dor, morte, doenças, contaminação e
destruição, impossíveis de reparar ou compensar. Entre 2004 e 2008, houve o
chamado “<i style="mso-bidi-font-style: normal;">boom das commodities</i>”, um super-ciclo
de exploração mineira diretamente ligado à expansão da economia chinesa. Nestes
poucos anos, as corporações e as médias empresas de mineração aumentaram muito
seus lucros e acumularam grandes quantidades de capital. Por ocasião da crise
de 2008, começou uma certa estagnação também na economia mineral e uma queda
dos preços internacionais dessas <i style="mso-bidi-font-style: normal;">commodities</i>.
As empresas aproveitaram desse período para preparar condições para novos
cenários de expansão, havendo assim pressão das associações empresariais e das
corporações transnacionais sobre os poderes públicos de cada estado em vista da
desregulação social e ambiental. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">No Brasil,
consolidam-se lobby que solicitam abertura da mineração em terras indígenas e
flexibilização do código ambiental. É decretado o novo marco legal da mineração,
com condições favoráveis à expansão desse setor.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Em toda América
Latina há sérios retrocessos em matéria de politicas ambientais e de proteção
dos direitos dos povos e da natureza, enfraquecendo-se o direito dos povos e
das comunidades à terra e ao território.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Confirma-se
evidentemente o papel dos estados a serviço do extrativismo, também através de incentivos
financeiros e da legitimação da mineração como um dos caminhos principais para
o desenvolvimento.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Mais
recentemente, os fluxos de investimento em mineração estão se reativando, seja
na pesquisa que em equipamentos, extração mineral, infraestrutura e plantas de
beneficiamento. Com isso, volta a aumentar o número de conflitos territoriais. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O mapa
dos empreendimentos mineiros vem quase sempre a coincidir com o mapa destes
conflitos. Vejam-se, a título exemplificativo, dois documentos extremamente interessantes:
o mapa de conflitos do </span><a href="https://mapa.conflictosmineros.net/ocmal_db-v2/"><i style="mso-bidi-font-style: normal;"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Observatorio
de Conflictos Mineros en América Latina</span></i></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> (OCMAL) e o </span><a href="http://ejatlas.org/featured/mining-latam"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Atlas de Justiça Ambiental</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">OCMAL
apresenta a cada ano um estado da situação da mineração e seus conflitos no
continente. Pode-se acessar </span><a href="https://www.ocmal.org/informe_2017-3/"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">aqui</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> ao último relatório, de 2017. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNpRBOMdXz4mnZs9xz5YBHW00yNLQS2VtuUzcBBBGS9Ag4lQrRVpuiU4mAiv45lwFAjCy2tpNb1d4c7dGMWy3v8UlxNLwmjdSbKPf659Bs0gvkd4Za65hAenM9qYX8q5rtgFC2WF34uMoD/s1600/encontro+IyM+Bras%25C3%25ADlia+%25284%2529.jpeg" imageanchor="1" style="clear: right; float: right; margin-bottom: 1em; margin-left: 1em;"><img border="0" data-original-height="917" data-original-width="1280" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjNpRBOMdXz4mnZs9xz5YBHW00yNLQS2VtuUzcBBBGS9Ag4lQrRVpuiU4mAiv45lwFAjCy2tpNb1d4c7dGMWy3v8UlxNLwmjdSbKPf659Bs0gvkd4Za65hAenM9qYX8q5rtgFC2WF34uMoD/s320/encontro+IyM+Bras%25C3%25ADlia+%25284%2529.jpeg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Quais são os principais problemas
ambientais e sociais gerados pelo extrativismo na América Latina? Pode nos dar
exemplos de implicações sociais e ambientais geradas pelo extrativismo na
América Latina?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Para os
leitores-as entenderem a situação global, prefiro partir de um exemplo
concreto: a visita do grupo convocado a Brasília às comunidades atingidas de
Paracatu-MG. Todos os participantes destacaram muitas coincidências com as
situações vividas em seus países de origem, mostrando assim que a mineração se
encaixa num padrão internacional de violações e ameaças à vida.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Desde
1987, funciona em Paracatu a maior mina de ouro a céu aberto do mundo, hoje
operada pela companhia canadense Kinross. É a mina com mais baixo teor de ouro
entre as que operam no mundo: para conseguir 1g de ouro é necessário explodir e
tratar quimicamente com cianeto 2,5 toneladas de minério! Todo ano, assim, a
Kinross explode e retira do solo 61 milhões de toneladas de terra,
depositando-as de novo, contaminadas com arsênio, nas represas de rejeitos que
circundam a cidade. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Uma
delas, com 440 milhões de toneladas de rejeitos, já está cheia. Outras duas
estão sendo utilizadas (todos lembramos o crime ambiental da Samarco, em
Mariana, onde o rompimento de uma barragem de rejeitos provocou a morte de 20
pessoa e a contaminação de uma inteira bacia hidrográfica). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">As águas
da chuva penetram nesses imensos depósitos de descartes contaminados e são
escoadas nos igarapés e rios da região. Um relatório do </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Centro de
Tecnologia Mineral do Governo Federal atesta que mais de 95% da população
amostrada apresentou teores de arsênio em urina. Esse veneno provoca diversos
tipos de câncer, diabetes, alterações endocrinológicas e vários problemas de
pressão arterial e respiratórios. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A
comunidade de pequenos produtores rurais de Santa Rita, muito pobre, foi
dividida pela empresa, que comprou a terra de alguns, afastando-os da região, mas
não mostrou interesse por outros, que ainda continuam num território
completamente contaminado e esquecido. São os descartes do sistema, que esmolam
sobrevivência e reivindicam dignidade, mas que até hoje não foram escutados por
ninguém.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Apesar
de tudo isso, a mineradora estrangeira opera há anos com todas licenças sociais
e ambientais aprovadas. A previsão de vida da mina é até 2040. No espaço de
mais uma geração, a corporação canadense se retirará, provavelmente deixando só
um enorme buraco e milhões de toneladas de lixo tóxico na região.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Pode nos dar um panorama da
situação dos afetados pela mineração na América Latina? Qual é o perfil dos
atingidos e quais são os principais relatos e demandas deles?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Além das
violações socioambientais acima exemplificadas, uma outra grave violação que
está aumentando é a expulsão de famílias, comunidades ou povos originários de
seus territórios.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Uma
agressão gritante é a criminalização do protesto popular, que é considerada uma
“re-vitimização”, porque as pessoas são atingidas pela segunda vez, quando
tentam denunciar as violações de que sofrem.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">As empresas
e os agentes estatais, frequentemente aliados aos grandes canais de divulgação
midiática, estruturam campanhas de desprestígio e difamação das lideranças ou
entidades que se opõem aos grandes projetos de mineração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O Estado,
que deveria a princípio defender os cidadãos em condições mais frágeis, passa a
ser um aliado do capital das corporações mineiras e uma sentinela que garante a
segurança dos investimentos delas. É comprovado, nos últimos anos em América
Latina, um aumento da participação das forças públicas (polícia e exército) nos
ataques e repressões à população em protestos contra os danos da mineração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Da mesma
forma, está aumentando a impunidade sistémica e a falta de atuação do poder
público nos inúmeros casos de agressão violenta (e frequentemente morte) de
defensores de direitos socioambientais.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O último
relatório anual de Global Witness (2017) reporta o número mais alto até agora
de defensores da terra e do meio ambiente que foram mortos: 197 num só ano,
sendo quase 60% deles em América Latina. O documento destaca que as causas
principais dessas mortes são o agronegócio e a mineração.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O
jornal inglês </span><a href="https://www.theguardian.com/environment/2018/feb/02/almost-four-environmental-defenders-a-week-killed-in-2017?CMP=share_btn_tw"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">The Guardian</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> comenta que
nesses casos a abundâncias dos recursos é inversamente proporcional à
autoridade da lei e à regulamentação ambiental. Associa estas mortes à
responsabilidade de “uma economia global guiada pela expansão e o consumo”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdy0LdmQwt5cd9IjzTZpHwkzwJKriz1EQXxFpejv_5SwVZbOtK21wVkVGivCu1yPYQcs6ifiP5ngRQiv8rUF5Y8s57wFYeLIoefdsMp4RbM4X14RPbjFbzDzvl9AVL9yKvN6OLL3HaCjVK/s1600/encontro+IyM+Bras%25C3%25ADlia+%25282%2529.jpeg" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1242" data-original-width="1280" height="310" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgdy0LdmQwt5cd9IjzTZpHwkzwJKriz1EQXxFpejv_5SwVZbOtK21wVkVGivCu1yPYQcs6ifiP5ngRQiv8rUF5Y8s57wFYeLIoefdsMp4RbM4X14RPbjFbzDzvl9AVL9yKvN6OLL3HaCjVK/s320/encontro+IyM+Bras%25C3%25ADlia+%25282%2529.jpeg" width="320" /></a><b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Quais são as implicações econômicas
para a América Latina ao se apostar num modelo econômico ancorado no
extrativismo?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Muitos
pensam que não é um problema para um país depender economicamente dos recursos
naturais que tem à disposição em seu território. A pauta extrativista,
vinculada ou não à privatização das empresas que exploram os bens naturais,
orientou a grande maioria dos governos de América Latina, seja de direita que
de esquerda. Estes últimos têm baseado seu projeto de desenvolvimento popular
sobre uma política econômica que vem sendo definida “</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">neo-extrativismo
progressista”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O
desenvolvimento é associado única e exclusivamente ao crescimento econômico; a
maneira mais simples para garantir um balanço comercial positivo e capital
monetário rapidamente à disposição dos governos é a exploração e exportação das
<i style="mso-bidi-font-style: normal;">commodities</i>. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Os
gestores mais progressistas têm investido os lucros gerados por esta economia
primária em políticas estatais de distribuição de renda, geração de emprego,
aumento dos salários e fortalecimento do consumo interno. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Trata-se
porém de um desenvolvimento instável, fortemente dependente das flutuações dos
preços internacionais das matérias primas, de visão curta e sem futuro, pela
finitude dos recursos à disposição. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Em
muitas regiões mineiras, estruturou-se uma economia de enclave, totalmente
dependente destes recursos, sem algum interesse ou incentivo à diversificação
ou à qualificação profissional da força de trabalho.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Vários países
latino-americanos estão se desindustrializando, por achar mais conveniente no
curto prazo investir pesadamente no extrativismo.<span style="color: #333333;"> O</span>
<span style="color: #333333; mso-bidi-font-weight: bold;">Brasil</span> <span style="color: #333333;">está experimentando uma das maiores</span> </span><a href="http://www.ihu.unisinos.br/575200-o-brasil-esta-experimentando-uma-das-maiores-desindustrializacoes-da-historia-da-economia"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">desindustrializações</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> <span style="color: #333333;">da história, em um período muito curto: nos anos 80 e 90
o setor industrial representava o 35% da produção nacional, mas hoje está
abaixo do 12% e segue em diminuição.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Assim, os
estados se tornam cada vez mais dependentes do ponto de vista comercial e
econômico; como num círculo vicioso, cresce a necessidade de exportar para
poder financiar crescentes importações de bens de consumo. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Os países que
fazem a opção extrativista, a fim de atrair o investimento de capital para seus
grandes projetos se veem frequentemente obrigados a reduzir a regulação estatal,
abaixar taxas e impostos e abrir-se à instalação de corporações transnacionais
em seus territórios, que representam literalmente “um estado dentro do estado”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">No caso de
violações de direitos cometidas por essas multinacionais, por exemplo, é muito
difícil responsabilizar as empresas estrangeiras e processá-las no território
em que operam; chega-se até ao limite das corporações reivindicarem o direito
de processar os próprios estados nacionais, pela cláusula de proteção de seus
investimentos, nos casos em que projetos de exploração mineral viessem a serem
suspensos por protestos da sociedade civil (é o caso do </span><a href="http://cispes.org/article/oceanagold-pay-and-pack?language=es"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">litígio</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> Pacific
Rim/Oceana Gold versus El Salvador, felizmente concluso com a Lei Nacional de
veto à mineração metálica em todo o país). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Finalmente,
consideremos que a economia extrativa é aquela que mais abundantemente desvia
dinheiro para </span><a href="https://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150415_brasil_zelotes_evade_fd"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">paraísos fiscais</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> (o Brasil é o
quarto país ao mundo nessa prática: em 2010 calculou-se um desvio de mais de 1
trilhão de reais).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Não se pode afirmar, portanto,
que o extrativismo beneficia a economia nacional, e sim, de maneira descontrolada,
a acumulação de capital das grandes corporações.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Entre os que são favoráveis ao
extrativismo, argumenta-se que os indígenas e quilombolas deveriam ter suas
terras reduzidas para dar espaço ao extrativismo e ao agronegócio, por exemplo.
O que seria um modo adequado de vida dessas comunidades nos seus territórios,
sem apelar ao extrativismo?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Essa
argumentação de quem apoia a opção extrativista confirma o fato que estamos no
campo de disputa de dois modelos radicalmente diferentes. A Carta Pastoral do
CELAM o descreve como o conflito entre o modelo</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> predatório e aquele de convivência
do ser humano com o resto da Criação. O modelo predatório baseia-se sobre uma
produção ilimitada, extensiva (que precisa de grandes áreas geográficas) e
intensiva (que busca produtividade cada vez maior, através da tecnologia
aplicada à natureza).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Não podemos
negar ou fugir deste conflito, precisamos explicitá-lo e nele assumir uma
posição. </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Papa
Francisco denuncia o modelo de desenvolvimento “anônimo, asfixiante, sem mãe,
com sua obsessão pelo consumo e seus ídolos de dinheiro e poder” (trecho do
documento de estudo em preparação ao Sínodo especial para a Amazônia).</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Por
outro lado, os povos indígenas mantêm um modo de vida e uma cultura fundada no
cuidado da Mãe Terra. Eles vigiam os rios e são protetores da floresta e dos
recursos. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A
eles, em Puerto Maldonado (Peru), Papa Francisco disse: “é justo reconhecer a
existência de esperançosas iniciativas que surgem das vossas próprias bases e
organizações, procurando fazer com que os próprios povos originários e as
comunidades sejam os guardiões das florestas e que os recursos produzidos pela
sua conservação revertam em benefício das vossas famílias, na melhoria das vossas
condições de vida, da saúde e da instrução das vossas comunidades”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Pesquisas
demonstram que somente pelo fato de ser uma terra indígena homologada, diminui
de 20 a 30 vezes a chance de ocorrer desmatamento, quando comparada com áreas
adjacentes a esses territórios. Guardiões da Floresta é um título com o qual
diversos povos indígenas se autodenominaram; lembremos, por exemplo, a </span><a href="https://sustentabilidade.estadao.com.br/blogs/eu-na-floresta/indigenas-brasileiros-sao-consagrados-mundialmente-por-preservacao-da-amazonia/"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">aldeia Apiwtxa</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> (no Acre) ou os
</span><a href="http://amazonia.org.br/2015/09/povo-indigena-kaapor-integra-tecnologia-no-monitoramento-e-protecao-do-seu-territorio-tradicional/"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Ka’apor</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> do Maranhão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O
modo de vida dos povos originários em América Latina resgata a perspectiva do</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Bem Viver
e desafia nossa cultura ao diálogo respeitoso com tradições que convivem com as
diferenças multipolares da vida, valorizam a complementariedade e a unidade
indissolúvel de espaço e tempo, lutam de forma permanente para a descolonização
de suas terras, pensamentos e tradições. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - O que tem sido sugerido como um
modelo alternativo ao extrativismo?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Não é
mais suficiente buscar um “desenvolvimento alternativo” (melhorar a tecnologia,
diminuir os impactos, compensar os danos deste modelo econômico-produtivo);
precisamos urgentemente visualizar, propor e construir “alternativas ao
desenvolvimento”. </span><a href="https://www.google.com/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=2&ved=2ahUKEwjb4qXKnejcAhXGG5AKHRJeAGsQFjABegQIBRAC&url=http%3A%2F%2Fwww.gudynas.com%2Fpublicaciones%2FGudynasExtractivismoTransicionesCides11.pdf&usg=AOvVaw0smoRGLD1bnZlPMSS5TDD3"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Eduardo Gudynas</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">, especialista uruguaio em temas
relacionados ao meio ambiente e desenvolvimento, nos orienta bastante nessa
reflexão.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">É
necessário transformar as próprias bases ideológicas do desenvolvimento, nossas
concepções sobre a qualidade de vida, o crescimento econômico e o consumo.
Abandonar a fé no desenvolvimento ilimitado e resgatar </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">princípios mais
profundos, como o Bem Viver.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Uma
alternativa é o “pós-extrativismo”. Não significa proibir todas as formas de
extrativismo, mas sim redimensionar este setor, deixar de depender
economicamente dele e manter as operações que sejam realmente necessárias e
tenham impactos sócio-ambientais aceitáveis. </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">É claro
que essa transformação não poderá acontecer rápida e radicalmente. Gudynas faz
referência a “transições”, como passagens de um extrativismo “predador” para
ritmos e taxas “sensatos” e, finalmente, às atividades “indispensáveis”. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">As transições
rumo ao pós-extrativismo devem declarar o que está <i style="mso-bidi-font-style: normal;">proibido</i> (por exemplo a mineração de ouro; na Amazônia, o saque de
qualquer recurso natural), o que precisa ser <i style="mso-bidi-font-style: normal;">reformado</i> (escalas, tecnologias e destinos da mineração) e quais
são as <i style="mso-bidi-font-style: normal;">possibilidades</i> a serem
incentivadas (por exemplo, a agricultura diversificada e orgânica). </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Para
sustentar essas transições é necessário construir uma base social consistente,
que as apoie e exija políticas econômicas inspiradas ao pós-extrativismo.
Deve-se recuperar o papel do estado e da sociedade para a regulação do mercado.
Precisa impor às industrias extrativas uma reforma tributaria em escala
macrorregional, cujos frutos poderão permitir uma ampla diversificação
econômica.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<b><span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">IHU - Como a encíclica Laudato Si’ e a carta
pastoral do Celam, “Discípulos Misioneros Custodios de la Casa Común”, podem
contribuir para sugerir alternativas ao extrativismo de minério?</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Estes
importantes documentos da Igreja não são tratados técnicos, nem têm a pretensão
de planejar políticas econômicas; porém, oferecem importantes inspirações e
princípios fundantes. </span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O CELAM
define o extrativismo como “</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">uma desaforada tendência do sistema económico a
converter em capital os bens da natureza”. Por sua vez, a Laudato Si’ convida a
uma “corajosa revolução cultural” (n.114) e uma “mudança radical na compreensão
e prática da economia” (n.194), buscando incessantemente alternativas ao modelo
do descarte e à economia do saque.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A
Carta Pastoral dos bispos latino-americanos afirma que um grande desafio,
horizonte que precisamos alcançar, é a satisfação das necessidades humanas para
que todos tenham terra, teto e trabalho. Para isso precisa de “um esforço de
engenhosidade e criatividade, baseado na grandeza espiritual de uma economia de
comunhão”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Ambos
os documentos declaram que a terra, o ar e a água são bens comuns, o acesso aos
quais é direito de todos, o cuidado dos quais é dever de todos.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Uma
intuição nova e relevante da Laudato Si’, que inclusive está inspirando o
processo de escuta do Sínodo especial para a Amazônia, é a necessidade de
assumirmos a </span><span style="font-family: "times new roman" , "serif";">perspectiva
dos povos originários, resgatando suas culturas e modos de vida, garantindo seu
protagonismo e sua autodeterminação nos territórios.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif";">Nesse sentido,
um instrumento essencial é o c</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">onsentimento prévio, livre e informado das comunidades com respeito a
qualquer projeto que preveja se instalar em seus territórios. Esse mecanismo
garantirá, a partir da consulta local, a existência de áreas reconhecidas pelo
poder público come “livres da mineração”.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: #0070c0; font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">- Qual tem sido a atuação da Igreja
na discussão sobre a mineração e a situação dos afetados?</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A rede <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Igrejas e Mineração</i> tem sido um ator
relevante no continente, sobre este tema.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Fundada
em 2013, a partir de uma iniciativa informal de alguns grupos religiosos
preocupados pelo aumento descontrolado da criminalização de líderes das
comunidades cristãs em oposição à mineração, a rede cresceu muito nos anos
seguintes, articulando diversas comunidades atingidas e afirmando-se como
interlocutor importante junto às igrejas.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Aos
poucos, a rede consolidou-se como um espaço plural, ecumênico e auto-convocado,
formado por comunidades cristãs, equipes de pastoral, congregações religiosas,
grupos de reflexão teológica, leigas e leigos defensores de direitos humanos,
bispos e pastores.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A
iniciativa de <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Igrejas e Mineração</i>
levou a CNBB à criação oficial de um grupo de trabalho sobre mineração, com a
participação de três bispos e outros cinco assessores especializados.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">As
denúncias da rede provocaram o então Pontifício Conselho Pontifício de Justiça
e Paz (hoje Dicastério Vaticano para o Desenvolvimento Humano Integral) a
convocar em Roma (julho 2015) um encontro mundial de atingidos-as por
mineração, que foi preparado em coordenação com <i style="mso-bidi-font-style: normal;">Igrejas e Mineração</i>.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Além de
três assembleias continentais, a rede já promoveu um amplo </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=bYVY_b3y-dg"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">seminário sobre ecoteologia</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">, publicou um </span><a href="http://www.a12.com/redacaoa12/igreja/livro-lancado-pela-cnbb-aborda-realidade-dos-atingidos-pela-mineracao"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">livro</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">, uma </span><a href="http://repam.org.br/wp-content/uploads/2018/07/ECOTEOLOGIA-Revista.pdf"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">revista ecoteológica</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> e um </span><a href="https://www.youtube.com/watch?v=Fw0cxGoIiMQ"><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">vídeo-documentário</span></a><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"> sobre os desafios para as
igrejas latino-americanas frente ao extrativismo.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">A rede
tenta reforçar a atuação das comunidades locais no enfrentamento das violações
da mineração e assessora as igrejas para que assumam ativamente sua defesa e
acompanhamento.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">O GT
Mineração da CNBB realizará um encontro das comunidades afetadas e das igrejas
do nordeste do Brasil, no próximo mês de novembro, em Açailândia-MA.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;">Também o
Sínodo especial para a Amazônia é uma pauta prioritária sobre o tema da
mineração; a rede está participando do processo de escuta e oferece insumos
para denunciar o modelo saqueador imposto, promulgar e defender as alternativas
possíveis.</span><span style="font-family: "times new roman" , "serif"; font-size: 12.0pt;"></span></div>
</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-64351898253445063182018-05-25T17:54:00.003-07:002018-05-25T17:54:53.735-07:00Pão e circo e violência<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfI3Lokbmz4gwm2yqiRyrwg4LrlSbi1xWQQIzUlE_hjy9jJtZV8ftcn6G3yucQKk9b2SZj43HqmuR9jEBHMiFSK4ktHYidIxoiyOPF9zOxtraCQJAG2QVFJJw9nt5YVV8kGZ_fCFFmm7C0/s1600/violencia.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="208" data-original-width="244" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgfI3Lokbmz4gwm2yqiRyrwg4LrlSbi1xWQQIzUlE_hjy9jJtZV8ftcn6G3yucQKk9b2SZj43HqmuR9jEBHMiFSK4ktHYidIxoiyOPF9zOxtraCQJAG2QVFJJw9nt5YVV8kGZ_fCFFmm7C0/s1600/violencia.jpg" /></a></div>
Os antigos romanos garantiam o controle e a submissão da população aos governos através de pão e circo: migalhas de benefícios pontuais para criar dependência de quem detém o poder; diversão para distrair e desviar o debate sobre os verdadeiros problemas.<br />
<br />Mais recentemente, outra tática foi adotada pelos poderosos: gerar medo, criar um inimigo comum, mesmo se inexistente, para catalisar as forças e a insatisfação do povo sobre algo que não seja quem controla as regras do jogo.<br />Nesses últimos meses, a política no Brasil se fez cada vez mais violenta: desde a concentração de forças para o impeachment da presidenta Dilma e a prisão do ex-presidente Lula, até o assassinato da vereadora Marielle Franco e seu motorista Anderson e o atentado com armas de fogo ao acampamento dos movimentos sociais em Curitiba.<br />
<br />É legítima e muito importante a disputa de ideias e visões políticas, mas está sendo extrapolado o limite do respeito da vida e das regras mínimas do jogo democrático.<br />O poder judiciário poder estar prendendo a democracia.<br />O vínculo entre política e violência está se reforçando brutalmente. “O modo violento de se viver em sociedade no Brasil se dá por causa de alguns grupos que, ao tentar manter a atual ordem estabelecida, acabam tornando alguns modelos fixos e sem alteração” (texto base da Campanha da Fraternidade 2018, n. 58).<br />Em outras palavras, a violência é consequência de uma política voltada a defender os privilégios de poucos em detrimento dos direitos dos mais fracos na sociedade.<br />
<br /> “Existem hoje no Congresso Nacional parlamentares identificados com segmentos econômicos e sociais fortemente interessados em propostas potencialmente geradoras de violência. Defendem o uso de armas de fogo pela população civil, sustentando tratar-se de um direito natural, ou da autopreservação” (CF n. 60).<br />Quando a violência se afirma como prática corriqueira do poder executivo, legislativo e judiciário, um vírus começa a tomar posse também das relações sociais cotidianas.<br />“Os discursos e atos de intolerância, de ódio e de violência, tanto nas redes sociais como em manifestações públicas, revelam uma polarização e uma radicalização que produzem posturas antidemocráticas, fechadas a toda possibilidade de diálogo e conciliação” (Mensagem da CNBB sobre as próximas eleições políticas, abril 2018).<br />
<br />Mais do que nunca precisamos encarnar o Evangelho da não-violência: rever nossas posturas cotidianas, reeducar-nos ao diálogo e ao respeito das regras, desmascarar os interesses de quem está alimentando a violência, identificar pessoas e projetos políticos construtivos fundados sobre a redução da desigualdade e a inclusão dos marginalizados.<br />Esse é o caminho que Maria, padroeira do Brasil, aponta quando sonha dispersar os soberbos, derrubar os poderosos e saciar a fome de pão e justiça dos pobres.</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-14156945194502976092018-04-06T18:38:00.003-07:002018-04-17T13:53:20.909-07:00Tomar posição num País em conflito<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVstjdZnCWYG3jlqKdYOAREpkssQ1IVH9-YKiJ7VOeV7Qq5JGcnsVdspwuVQclluN5flE9cKasOmCEPTy_eJuui_FpYqGkVZFTUQh9VQkbexM2koVyfHD1Gas84ydQuhGem50GjyG5xwdW/s1600/bandeira.png" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="188" data-original-width="268" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgVstjdZnCWYG3jlqKdYOAREpkssQ1IVH9-YKiJ7VOeV7Qq5JGcnsVdspwuVQclluN5flE9cKasOmCEPTy_eJuui_FpYqGkVZFTUQh9VQkbexM2koVyfHD1Gas84ydQuhGem50GjyG5xwdW/s1600/bandeira.png" /></a></div>
Num momento extremamente complexo da vida política e das relações sociais do Brasil, é preciso nos posicionar, todos nós que dedicamos a vida para um País onde todas as pessoas e a Criação tenham vida plena.<br />
<br />
Não quero entrar no mérito da análise das decisões jurídicas específicas, nem me declarar de forma absoluta sobre a atuação política ou a honestidade de um ou outro partido.<br />
Analisemos porém a sequência dos fatos, a disparidade de tratamento reservada aos atores na cena política dos últimos anos, as análises de observadores externos e supostamente menos influenciados pelas disputas de poder nacional.<br />
Distancio-me decididamente do fanatismo antipetista que tem conquistado de forma visceral e agressiva as mentes e corações de muitas pessoas.<br />
Não defendo acriticamente as decisões e a gestão das coalizões de governo conduzidas por esse partido.<br />
<br />
Porém está claro para muitos de nós que a sequência de decisões, desde o impeachment até o mandado de prisão do ex-presidente Lula, evidenciam um projeto de desmonte de direitos coletivos adquiridos a custa de muita luta e organização popular.<br />
Uma parte muito influente do poder judiciário e, mais recentemente, do poder militar demonstram estar a serviço desse projeto.<br />
<br />
Preocupa-me o nível de violência e intolerância que está se espalhando na população, fomentado pela mídia e por estratégias de manipulação da verdade através das redes sociais.<br />
O ódio que está sendo concentrado ao redor de figuras históricas, instituições e movimentos sociais em nosso País está impedindo qualquer forma de debate, aprofundamento e são discernimento, mesmo a partir de diversos e legítimos pontos de vistas e projetos de sociedade.<br />
Assim, em lugar de promover políticas e políticos que busquem a afirmação de direitos coletivos e a garantia da qualidade de vida para toda a população, ela está sendo “distraída” e reduzida à disputa em favor ou contra de uma só pessoa.<br />
Esse clima de divisão e combate cultiva o fanatismo e favorece unicamente o projeto de desmonte que denunciamos acima.<br />
<br />
Quer preso, quer livre, o ex-presidente Lula representa um projeto histórico e político que tem o direito de ser avaliado pela população através do voto. <br />
Não admitamos a violência, mas apoiemos a posição firme de quem defende esse direito.<br />
<br />
<i>Texto publicado pelo <a href="http://www.ihu.unisinos.br/78-noticias/577808-tomar-posicao-nesse-tempo-de-conflito">Instituto Humanitas da Unisinos </a><http: tomar-posicao-nesse-tempo-de-conflito="" www.ihu.unisinos.br=""></http:></i></div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-5700888035867449426.post-15658927900551595362017-12-24T04:47:00.001-08:002017-12-24T04:47:15.084-08:00Maranathá! Venha a nós o teu Reino!<div dir="ltr" style="text-align: left;" trbidi="on">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAzTSACIhaYTpD8FVjvlIHCu8gkzSo4YlN0ZViJeu6Ezs-NtJUfSxEWbqzwVroLvilv1bW-00COy-6x8aEJqjG9TQZae-HIz-Nz4KJTtLbUaqqTVADj2qGv8-uXgaRWBWrr4AIMuYQzXTo/s1600/pastores.jpg" imageanchor="1" style="clear: left; float: left; margin-bottom: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="480" data-original-width="640" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiAzTSACIhaYTpD8FVjvlIHCu8gkzSo4YlN0ZViJeu6Ezs-NtJUfSxEWbqzwVroLvilv1bW-00COy-6x8aEJqjG9TQZae-HIz-Nz4KJTtLbUaqqTVADj2qGv8-uXgaRWBWrr4AIMuYQzXTo/s320/pastores.jpg" width="320" /></a></div>
Vem, Senhor Jesus! Venha a nós o teu Reino!<br /><br />É noite, está escuro, mas estamos aqui, celebrando.<br />É o desemprego, a poluição, o desrespeito dos pobres. É a violência, o descaso, o desmatamento. São as doenças e as mortes. Mas estamos aqui, celebrando.<br /><br />Os poderosos estão em outras festas, cuidando de outras ordens. Querem impô-las a nós. Parecem surdos, cínicos. Declararam guerra aos pobres.<br />Mas nós nos desanimamos: é denúncia, é protesto e manifestação. Hoje, celebrando, é também oração teimosa para que algo novo nasça também no coração desse País.<br /><br />Vem, Senhor Jesus! Venha a nós o teu Reino!<br /><br />Em nossas casas há muitas manjedouras. Em cada uma nasce o Menino Jesus.<br />Há solidariedade, comunhão, eucaristia. Há uma fé impressionante, que a noite não apaga.<br />No meio dos pobres nos alimentamos, reencontramos a força que estávamos buscando.<br /><br />Vem, Senhor Jesus! Venha a nós o teu Reino!<br /><br />Os pastores ficam vigiando a noite toda, em turnos. A luz está vindo, é preciso descobrir de onde...<br />Não podemos desanimar, adormecer, nos resignar. Se alguém se acomodar, acorde-o!<br />Amigo, fique de olhos abertos, de pé, sempre pronto a caminhar!<br />O Senhor Jesus está passando, ele puxa os pobres pela mão, para caminhar com eles, abrir fendas de libertação!<br /><br />Vem, Senhor Jesus! Venha a nós o teu Reino!</div>
pe. dário - missionário combonianohttp://www.blogger.com/profile/07349541536718711708noreply@blogger.com1