A luta de Piquiá de Baixo vem
sendo conhecida ano após ano dentro e fora do Brasil. É grito de uma comunidade
injustiçada pelo progresso poluído e a desordem gananciosa do capital da
mineração e siderurgia.
Como dar voz a essa
comunidade, para que ecoe ainda mais o clamor de suas manifestações de
protesto, de suas reivindicações por saúde, moradia e vida?
Como evitar que, mais uma vez, as
periferias de nosso País sejam consideradas como zonas de sacrifício, regiões
de pessoas pobres, fáceis de iludir com a promessa de desenvolvimento?
O que acrescentar à mobilização
popular, para confirmar a dignidade de quem defende os direitos coletivos e
empoderar uma comunidade que busca justiça e paz?
A beleza.
Contra toda sedução
efêmera, a beleza se abraça à resistência e torna a luta do povo inesquecível,
contagiosa. Deus abençoe: que essa beleza abra uma nova visão até para quem nem
quer olhar nos olhos de suas vítimas!
Tateando atrás dessa intuição, a
quadrilha junina “Matutos do Rei” de Açailândia-MA ofereceu sua arte de
quadrilha estilizada à causa da comunidade de Piquiá de Baixo, bairro daquele
município.
Há dez meses o grupo se debruça
sobre esse tema. É um grande desafio recolher num curto espetáculo de 25
minutos quase dez anos de história de luta de centenas de pessoas.
Acontece como num namoro: quando
há paixão, as forças se multiplicam, o cansaço parece desaparecer... a
esperança é tão intensa que ultrapassa o horizonte. Mais de cento e vinte
jovens da cidade se apaixonaram por esse desafio e abraçaram a causa de Piquiá
de Baixo.
A quadrilha estilizada, para quem não conhecer esse gênero, é uma recriação da tradicional quadrilha junina do nordeste, unindo às raízes culturais da quadrilha matuta a criatividade de um conto de amor dramático, romântico ou satírico e o vigor de figurinos, cenografias e coreografias próximas ao gênero carnavalesco.
A aliança entre os jovens
“brincantes” e a comunidade em luta para o reassentamento coletivo, livre da
poluição, foi selada numa tarde de domingo, quando esses dois grupos de
“guerreiros” se apresentaram entre si; os moradores de Piquiá de Baixo
colocaram no dedo de cada jovem um anel de tucum, compromisso por justiça e
pela vida dos mais pobres.
Numa sequência de 13 músicas e
coreografias, alternadas a trechos de narração teatral, conta-se a indignação
dos moradores de Piquiá de Baixo, a sedução das empresas, o perigo da divisão
da comunidade, o drama de decidir se permanecer ou lutar coletivamente em busca
de uma nova vida longe da fumaça.
Uma coroa feita de colheres brilha na cabeça
de cada brincante: representa o povo rei de si, empoderado pela fome de
justiça.
A quadrilha já dançou
em frente a juízes e promotores de justiça na cidade de Açailândia, apaixonou
milhares de pessoas ganhando no Arraial da Mira na cidade de Imperatriz e agora
segue para se apresentar em outras cidades do Maranhão e do Brasil.
A cada batida de sua dança no
tablado do arraial, sente-se o ritmo da luta de todas as comunidades que não se
resignam, que levantam a cabeça e se afirmam em seus territórios.
Piquiá de Baixo: reassentamento
já!
Assista aqui ao vídeo
da apresentação da quadrilha em Imperatriz.
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