Katia é uma mulher indígena do grupo Akrãtikategê. Foi
expulsa de sua terra: a aldeia devia deixar espaço à barragem de Tucuruí-PA,
que inundou a inteira região. Foram removidos a mais de 200 Km de distância, na
terra indígena Mãe Maria.
Também a Mãe Maria está sendo violada pelos grandes
projetos: a duplicação da Estrada de Ferro Carajás, dois linhões da Eletronorte,
um linhão de fibra ótica da Vivo, além da BR 222 que a atravessa.
Replica-se, em chave moderna, o evangelho de Natal: “Não
havia lugar para eles” (Lc 2,7).
Raimundo dos Santos é um sindicalista, agricultor,
conselheiro da Reserva Florestal de Gurupi (MA), ambientalista e defensor dos
direitos das comunidades rurais. Há tempo denunciava o saque de madeira da
reserva, último resquício da Amazônia maranhense. Foi friamente executado, ao
lado de sua esposa que sobreviveu às feridas, em agosto desse ano. Também nesse
caso não havia lugar para ele, nem ouvidos para sua voz.
Duas pequenas histórias desse microcosmo do norte do Brasil,
espelho local do contexto mundial, em que parece consolidar-se a espiral de
guerra, exclusão e terrorismo. Faz escuro, na noite dos sem-lugar.
Ressoa porém em nosso coração o poema de Thiago de Mello: “Faz
escuro, mas eu canto”. Nossa fé mede-se pela capacidade de oferecer razões de
esperança. Nas palavras do poeta, “quem sofre fica acordado, defendendo o
coração”.
Nessa noite do mundo, permanecemos acordados pelo sonho de
Papa Francisco, que nos convoca a abrir uma nova história, marcada pelo Jubileu
da Misericórdia.
Jubileu é ano de graça (Lv 25). É o ano em que os escravos
são libertados, as dívidas perdoadas, o descanso devolvido à terra para que
recomece seu ciclo natural. É o ano da fartura e da bênção.
Misericórdia é amor visceral. Não é um valor ético ou um
princípio moral: é a força descontrolada de quem ama sem medida e não tolera
limites. É um amor que não se intimida se, fora de si, há escuridão.
Nessa noite de Natal, então, lutemos pela inclusão, por um
tempo de graça em que se globalize a fraternidade e seja definitivamente
abolida a indiferença! Façamo-lo com compaixão, sem descontos nem poupanças. Se
não medirmos nossa misericórdia, seremos surpreendidos pelos frutos do Jubileu!
Essas duas palavras sejam para nós a estrela-guia. Caminhemos
cantando: que as nossas lutas e nossa preocupação por esse planeta não nos
tirem a alegria da esperança!
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