No Evangelho de Lucas narra-se a história de Zaqueu. Ele era “muito rico e muito baixo”.
Para o Evangelho, quem é muito rico é sempre muito baixo, pois está fechado e curvo em si mesmo, dobrado sobre seu dinheiro e suas posses. Não tem tamanho nem interesse para olhar olho no olho as outras pessoas.
Um rico se acha grande e importante, mas quando for ficar no meio da multidão, percebe que seu tamanho é reduzido. Deu mais valor ao dinheiro do que à vida, é um anão espiritual.
Considera os outros só um empecilho que impede chegar onde está desejando. Por isso Zaqueu quer subir numa árvore, para ficar, mais uma vez, acima dos outros. As palavras de Jesus são claras, porém: Zaqueu, desce! Desce de seu orgulho e arrogância, venha aqui no chão.
E Zaqueu, pela primeira vez, enxerga os pobres. Aqueles que eram obstáculo, agora são protagonistas de sua conversão.
Não é difícil ler hoje esse Evangelho na realidade de Açailândia e do corredor de Carajás.
A Vale, em sua operação de duplicação dos trilhos e do lucro, considera as comunidades ao longo da ferrovia como “interferências” para suas obras e projetos. Trata com ‘os pobres’ (se comparados com ela!) entregando umas esmolas aqui e acolá e acalmando a revolta deles.
Mas as comunidades não são obstáculo! E a elas, diz o Evangelho, é preciso devolver, não só derramar alguns pingos de esmola! Devolver suas terras, seu direito de viver, cultivar, respirar sem poluição, circular seguros em suas estradas...
Nesse mês de novembro chegou notícia da prisão de Ricardo Nascimento (grupo Ferroeste, presidente também da siderúrgica Gusa Nordeste de Açailândia). É acusado, no Espírito Santo, de participar da máfia da corrupção. Há documentos falsos de empresas que presumidamente vendiam carvão para suas siderúrgicas, enquanto elas sugam ainda carvão ilegal dos pequenos produtores, encobrindo com notas fiscais falsas.
Conforme noticiado, “é um esquema que no Espírito Santo dura há cerca de dez anos e trouxe lucros milionários para os donos de siderúrgicas”.
Ricardo Nascimento é presidente de uma das siderúrgicas que em Açailândia há mais de vinte anos oprimem e poluem os pobres do povoado de Piquiá de Baixo.
De onde vem a riqueza das siderúrgicas? Por que por vinte anos elas, a Vale, o Município e o Estado, como Zaqueu, nunca enxergaram os pobres de Piquiá?
Está na hora de abrir os olhos, de dizer que 350 famílias valem mais do que 50 vacas e de todos os lucros injustos das empresas.
Está na hora que esses Zaqueus, amigos dos poderosos e aliados a eles, desçam da árvore e comecem a devolver (essa é a palavra do Evangelho): devolver o que não é deles e que foi furtado à saúde e à vida dos pequenos!
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