“Que bonito seu trabalho de pastoral! Quanto você ganha por isso?”
Muitas de nossas lideranças já escutaram essa pergunta. Parece difícil entender, por parte do povo, que a gente vive e se compromete na igreja por paixão e com gratuidade!
O voluntariado, as pessoas que se doam para os outros vão em contra da ‘cultura’ de hoje, onde aprendemos que tudo mede-se pelo dinheiro.
É verdade, muitos de nós encontram-se em situações econômicas difíceis, precisam integrar a receita familiar com um ou outro ‘bico’ por aí... mesmo assim, muitas vezes são exatamente os mais pobres que mais se disponibilizam a servir, simplesmente por amor!
Esse é talvez o maior sinal profético da igreja hoje: as comunidades estão sendo sustentadas por pessoas que doam seu tempo, suas energias, seu dinheiro... de graça!
Estamos dizendo, assim, que é possível uma sociedade onde o dinheiro não seja a medida mais importante. Demonstramos com a vida, pelo menos em parte, aquela Palavra do livro de Atos 2,44: “Todos os fiéis viviam unidos e tinham tudo em comum. Vendiam as suas propriedades e os seus bens, e dividiam-nos por todos, segundo a necessidade de cada um”.
A Campanha da Fraternidade de 2010 tem exatamente esse tema: “Economia e vida”.
Além de nos fortalecer na esperança de um mundo novo em construção, denuncia a violência de uma economia que muitas vezes exclui.
O sonho de Deus é um banquete farto e gostoso ao qual todos tenham acesso, mas a economia de hoje fecha muitas portas para essa mesa da comunhão: “Havia um homem rico que se vestia de púrpura e linho e que fazia diariamente brilhantes festins. Um pobre, chamado Lázaro, jazia coberto de úlceras no pórtico de sua casa” (Lc 16).
Esse contraste é forte em Açailândia: somos a segunda economia do Estado, mas muitas famílias da cidade e do interior sobrevivem à beira da miséria e os serviços básicos como saúde e qualidade na educação são extremamente carentes.
Há dois pecados mortais em Açailândia, dos quais cada um deverá prestar conta a Deus: a acumulação de riqueza e o roubo de dinheiro público.
O paradoxo maior é visível no Piquiá de Baixo: debaixo da ponte do 'Banho dos Quarenta' encostam-se uma na outra três centenas de barracas e casas pobres, que respiram poluição e poeira; por cima passa o trem da Vale, rápido e carregado de riqueza que não fica para nós: até 50 milhões de R$ a cada dia!
É tempo de escrever novas páginas de evangelho também na economia de Açailândia:
- tempo de despertar novas formas de voluntariado em nossas comunidades
- tempo de fortalecer o dízimo, não como cobrança para a igreja enriquecer, mas como exemplo de uma comunidade que partilha de verdade
- tempo de assumir as ações da campanha Justiça nos Trilhos, que visa uma maior redistribuição de riqueza das multinacionais
- tempo de perguntar-se de onde vem a riqueza de Açailândia, quanto ela é justa e honesta e como pode-se colocar realmente a serviço do bem comum.
Bom trabalho e boa quaresma de conversão a todos nós!
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