Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
E-mail: padredario@gmail.com; Twitter:
@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

lunedì 20 gennaio 2014

Zuleide

Zuleide deixou uma grande herança à comunidade de Açailândia, tanto por seu serviço de catequista e membro do grupo de casais da igreja, como pelo seu trabalho dedicado e competente no mundo da escola.

Hoje quero ressaltar, porém, o legado dos últimos anos de sua vida. O jeito como vivemos o fim de nossa vida recolhe e expressa tudo o que semeamos e cultivamos ao longo da existência inteira.

Muitos de nós, nessas horas, perguntam-se “Por quê?”. Por que esse sofrimento?
Quem pergunta assim, sente Deus como alguém distante, frio calculador do tempo e do destino de cada um/a. Alguém que precisamos “convencer” para que poupe esse ou aquele nosso amigo...

A pergunta mais justa deveria ser outra: “Como?”. Como viver o sofrimento?
Frente ao limite da morte, nem Deus pode. Ao dar a vida para nós, Deus admitiu a condição da morte, que se fez limite para ele também.
Então Deus não tem o controle do tempo e do destino final de cada pessoa, não é um gerente da existência que “clica nas teclas de seu computador” para conferir vida, morte, doenças e acidentes, curas ou condenações.
Conversamos longamente com Zuleide sobre isso. Renovamos juntos nossa fé em Deus como companheiro que sofre ao nosso lado, torcedor para a vida plena e a serenidade em cada etapa de nossa existência. Conselheiro, consolador, sentinela para não perder de vista a esperança.

Zuleide foi imagem desse Deus. Foi testemunha verdadeira de vida cristã.

Havia uma romaria cotidiana à casa dela. Muitos (eu também) íamos lá não porque ela precisava de nós, mas porque nós precisávamos dela, de sua força interior, de sua serenidade.
Fazia-se perguntas, revoltava-se também (um dia chegou a pedir perdão porque, frente a mais uma notícia negativa do médico, “bati o punho na mesa”...). Nem sempre conseguia tratar seu marido Sinésio com o mesmo carinho dele (mas pediu desculpa disso também).
Sobretudo, porém, nunca perdeu a teimosia de viver.

Cuidava de si cuidando dos outros. Parece que suas energias aumentavam por acolher em si as preocupações dos outros. Como no caso de sua vizinha com depressão: Zuleide a visitava, mesmo carregando dentro de si outra doença grave como o câncer. Parecia uma versão sofredora do encontro entre Maria e Isabel. Ou como no caso dos muitos que iam até a casa de Zuleide para pedir conselhos, desabafar, partilhar dúvidas ou problemas...

Buscava sempre uma nova luz, uma outra saída. Como na conversa com sua médica, muito dedicada. “Mais uma porta se fechou”, dizia a médica com resultados negativos dos exames nas mãos. “Mas iremos sair pela janela”, continuavam as duas, juntas!

Viveu tanto e tão intensamente graças à família, e a Sinésio especialmente. No cuidado do dia-a-dia, numa comida preparada e re-preparada, até que ela gostasse e conseguisse se alimentar. Na limpeza da casa, nas viagens contínuas, incansavelmente, para Imperatriz...
É esse serviço silencioso e afetuoso que transmite força e gosto de viver: às vezes uma família adoece por inteiro, outras vezes, uma família enfrenta a dor como fosse um corpo só.

Ajudou-nos a ser comunidade. Sua dor e sua luta foram como uma ima que agregou as melhores forças, o tempo e a disponibilidade de cada pessoa. Zuleide nos reuniu e nos pede, daqui para frente, de não perder essa união a serviço da vida dos sofredores.

Descanse em paz, cara amiga, você fez sua parte. Pode deixar: nós faremos a nossa, com fidelidade e esperança.

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