A Caravana Internacional dos Atingidos pela Vale continua sua caminhada através do Pará e Maranhão, chegando a Açailândia.
Em cada etapa centenas de pessoas encontradas, mas sempre a mesma atenção para as pessoas, suas historias e seus nomes. Os nomes concentram em si a identidade, o passado e os sonhos de pessoas e territórios.
É engraçada, nesse sentido, a decepção do membro canadense da caravana: esperou uma semana para chegar a Açailândia e tomar sorvete de açaí... mas descobriu que o assalto às terras da região pelas empresas e o latifúndio despejou há tempo os açaís centenas de quilômetros adentro!
Ou a surpresa dos moçambicanos ao saber que Pequiá não é mais o nome da árvore bonita que tinham encontrado no Pará: agora, aqui, é simplesmente o acrônimo de “PEtrol-QUímico Açailândia”!
Assim, as terras e as pessoas mudam seus nomes pela violenta influência desse modelo de desenvolvimento.
Aliás: precisaria esclarecer também o sentido de expressões como “desenvolvimento sustentável”, “progresso”, “crescimento”. Para alguns poucos essas palavras têm extremo valor, para muitos têm somente conseqüências e efeitos colaterais.
Em Açailândia o efeito colateral do progresso é poluição, exclusão de centenas de famílias cercadas pelas firmas e cobertas de poeira (“o negócio é pó, meu irmão!”), monocultura de eucalipto que expulsa as famílias do campo...
A Caravana encontra novos conflitos, ligados diretamente à linha de ferro que atravessa povoados e cidades no Maranhão todo: atropelamentos de pessoas (mediamente uma vítima por mês, sem alguma indenização), “meninos do trem” andarilhos nos vagões de minérios de uma ponta a outra dos 900 Km de ferrovia, enorme desproporção do lucro.
Por cima da ponte do progresso corre o combóio de ferro para exportação (um valor bruto, a cada dia, de cerca de 50 milhões de reais!). Debaixo, há mais de trinta anos, permanecem os barracos do povo que parece só atrapalhar os negócios dos ‘grandes’.
Mas é esse povo que mantém a cabeça erguida e agüenta na luta de resistência e busca de alternativas: a caravana encontra a mobilização popular de Piquiá de Baixo e assina um documento de solidariedade internacional que será entregue às autoridades dos três poderes, locais e estaduais.
Num ato simbólico, na praça pública, a caravana suja suas mãos e roupas com a mesma poeira que contamina a cada dia os pulmões do povo; há quem chora, ao deixar-se tocar pelas crianças nesse gesto de solidariedade, de joelho enquanto o trem passa numa corrida desinteressada.
Outro ato simbólico amarra dezenas de máscaras contra a fumaça na porta da carvoaria da Vale, após uma caminhada de denúncia e solidariedade ao povoado de Califórnia. Cada pessoa grita sem medo seu nome e país: quem se esconde e não assume suas responsabilidades, em Açailândia, é a empresa, não o povo.
Atrás da empresa, refém de seu poder econômico e sua influência mediática, esconde-se também o poder político. A caravana faz questão de encontrar a população num seminário na Câmara Municipal, mas ninguém dos vereadores ou da administração pública participa ativamente do evento.
A etapa de Açailândia fala uma linguagem desconhecida aos ritmos do progresso: o teatro, a mística, a arte são meios de expressão popular que talvez nos permitam evitar o seqüestro de outros nomes e significados.
A vida acima do lucro! Nossos nomes e histórias valem muito mais dos interesses exclusivos das empresas.
Aliás: alguém nos explique o que significa “Responsabilidade Social das Empresas”...
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