Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
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@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

giovedì 21 agosto 2008

Maria Vitória


Seu nome era Maria Vitória. Morava no assentamento Nova Vitória.
Mas sua morte denuncia a derrota de todos e de cada um.
Era uma criança desnutrida, filha de uma família com muitos problemas: a mãe com limites mentais, o pai sem trabalho e de frequente alcolizado, um grande número de irmãos mais velhos (porque um, mais novo, já tinha morrido da mesma morte severina).

Mas no caso de Maria Vitória, depois de muito sofrimento, a situação parecia bem encaminhada: finalmente tinha aparecido uma família adotiva que teria os meios para cuidar dela.
O hospital tinha dado alta há duas semanas, dizendo que estava fora de perigo... só precisava continuar com a hidratação e a alimentação.
Mas sexta-feira a criança morreu. O conselho tutelar não avisou ninguém.
Soubemos disso por acaso e corremos ao cemetério: acabavam de fechar o túmulo (o homem da funerária, o pai adotivo e dois conselheiros tutelares). Uma despedida pobre, para uma criança que parece nem mereceu existir.
Ficou lá, no meio de muitos túmulos de outras crianças, várias já cubertas pela grama que cresceu alta mais de um metro. Com certeza, para chegar lá, pisamos por cima de outras crianças sepultadas e esquecidas.

Uma derrata da comunidade local. Derrota dos agentes de saúde do assentamento; do conselho tutelar; do hospital; desse Município que é o segundo mais rico do Maranhão mas ainda deixa morrer de desnutrição!
Essa história não termina só na saudade: denunciamos e pressionamos por maiores investigações sobre as responsabilidades de cada um.
Mas no entanto Maria Vitória perdeu a vida.

O Evangelho de hoje falava de um broto que tem que nascer. Rezando, sentimos a urgência de ver uma nova vida brotar, para entender onde e como cultivar, nessa terra violentata e machucada. Ao contrário, chega mais uma vida ceifada... não sei se é mais forte a raiva ou a decepção.
Mas não somos nós os que precisam de consolo… e talvez nem esse nosso povo, que já acostumou-se a morrer.

E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).

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