Vida e Missão neste chão

Uma vida em Açailândia (MA), agora itinerante por todo o Brasil...
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço!
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@dariocombo; Foto: Marcelo Cruz

lunedì 10 dicembre 2018

Nota de Solidariedade às vítimas no acampamento dom José Maria Pires

“Ai daqueles que, deitados na cama, ficam planejando a injustiça e tramando o mal! É só o dia amanhecer, já o executam, porque têm o poder nas mãos” (Miquéias 2,1).

Para os cristãos, Advento é tempo de espera ativa e de escuta dos sinais dos tempos. Na história há inúmeros sinais de vida, esperança e cuidado que precisam ser compartilhados para que não se perca o Espírito que os gera. Precisamos, porém, identificar, denunciar e exorcizar os sinais de morte, para que não dominem e diminuam nossos ânimos e não se instalem definitivamente em nossa sociedade.

Hoje, enquanto celebramos os 70 anos da Declaração Universal dos Direitos Humanos, estamos de luto e com a alma ferida por duas vidas brutalmente tiradas do nosso meio. O fato aconteceu no dia 8 de dezembro no acampamento Dom José Maria Pires, município de Alhandra, na Paraíba. Os companheiros José Bernardo da Silva, conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino foram covardemente assassinados por homens encapuzados e armados enquanto as famílias estavam jantando.

Nessa região, 450 famílias estão produzindo alimentos numa terra que foi encontrada abandonada, totalmente improdutiva, e que havia se tornado apenas um bambuzal, propriedade do grupo Santa Tereza.
O fato é tão grave que até a Procuradoria Geral da República, a Procuradoria Geral dos Direitos do Cidadão e a Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão na Paraíba publicaram uma nota de solidariedade às famílias das vítimas, e de repúdio, denunciando “o contexto sombrio de violência contra os movimentos sociais”. De fato, os movimentos sociais, as comunidades e os povos que clamam pelo direito a terra, casa, trabalho e pão são constantemente criminalizados, ameaçados, expulsos e mortos e, muitas vezes, acusados injusta e levianamente de terrorismo.  

A verdade é que a reforma agrária, a distribuição das terras improdutivas, a integração das famílias no campo, a demarcação das terras indígenas e a proteção dos territórios das comunidades tradicionais quilombolas, a agricultura familiar e agroecologia são caminhos sustentáveis indispensáveis para mitigar a violência crescente no País, especialmente nas periferias das grandes cidades, além de contribuir com a segurança alimentar.

No dia 9 de dezembro, o Presidente eleito indicou Ricardo Salles como futuro Ministro do Meio Ambiente. Com denúncias de improbidade administrativa e fraudes em favor das empresas quando era Secretário Estadual do Meio Ambiente em São Paulo, muito próximo aos ruralistas, Salles relativiza o perigo do aquecimento global e poderá adequar a agenda do Meio Ambiente aos mandos do Ministério da Agricultura, que melhor deveria ser chamado “do Agronegócio”.
Em campanha eleitoral, este político associava o enfrentamento “à esquerda e ao MST” ao uso de balas.

É preciso exorcizar e inibir desde o começo estes sinais de morte e discurso de ódio que incentivam a violência, a difamação e calúnia, a eliminação física dos “adversários” e a impunidade. Nesse dia de luta, luto e pesar, a Articulação Comboniana de Direitos Humanos (ACDH) se junta aos movimentos sociais, às comunidades de agricultores e trabalhadores, aos defensores e defensoras de direitos e ao Ministério Público Federal para clamar pela vida, justiça social e proteção das lideranças e de todas as pessoas.

O crime de Alhandra precisa ser investigado e os culpados imediatamente punidos. A postura agressiva e violenta de muitos integrantes do futuro Governo deve ser constantemente reprimida pelas Instituições. Os Direitos Humanos não são bandeira de um partido, ou só de alguns militantes, mas a ‘Carta Magna’ da civilização e a garantia de um futuro de paz para essa e as novas gerações.

Em solidariedade, indignação e resistência,
A Articulação Comboniana de Direitos Humanos
São Paulo, 10 de Dezembro de 2018.

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