Perguntas diretas para João Batista, quase uma audiência pública, um processo: no primeiro capítulo de João, de repente nos encontramos no meio de um conflito aberto. O julgamento para o profeta já começou e sabemos como irá acabar (talvez isso nos tire um pouco a poesia do Natal).
Sempre, na história da igreja, ficamos preocupados pelo juízo de Deus; o evangelho revela, ao contrário, que é o juízo dos homens que faz a diferença, desse nos devemos preocupar.
‘Viemos pra incomodar’, não há cristão fora do conflito: no final nossa vida fará sentido se terá provocado as pessoas a assumir uma posição, se teremos amigos e também inimigos, e se –apesar disso- teremos aprendido a amar uns e outros.
Nesse processo aparece evidente a identidade de João Batista, seu perfil; assim também hoje não adianta sermos cristãos anônimos, o conflito nos obriga a definir claramente nossa personalidade.
“Sou voz”, diz João Batista: que identidade essencial e radical!
Nessas terras amazônicas onde ainda vigora impunidade, corrupção e cumplicidade... ser voz é entrar desarmado no conflito. No Xingu, por exemplo, dom Erwin Krautler relata: “Os crimes acontecem à luz do dia, à vista de todos, mas ninguém pode, absolutamente, revelar o que viu e ouviu para não ser incluído na lista dos que serão executados. Para salvar a própria pele, passa a vigorar a lei do silêncio”.
Ser voz é ter a coragem de falar, de fazer acontecer a justiça: denunciar, testemunhar (4 vezes essa palavra aparece no texto do evangelho!), tomar posição.
“Nessa terra o Estado é ausente. A Justiça é ausente – continua dom Erwin- Alguém, então, tem que levantar a voz. Alguém tem de falar. Os únicos que fazem isso são as pastorais”.
‘Pastoral’ vem de ‘pastor’, que também é voz para suas ovelhas. Elas conhecem sua voz, precisam da voz corajosa do pastor que aplaine caminhos, endireite os trilhos que violentos e gananciosos entortaram.
Vamos fazer nossas pastorais falar mais alto do que as regras herdadas de uma sociedade injusta e passiva! Juntos, ovelhas e pastores, vamos ser voz corajosa nos conflitos do dia-a-dia!
Ser voz não é somente usar a voz: é sentirmo-nos totalmente identificados naquilo que estamos dizendo, entregar com paixão a palavra e nossa inteira identidade a quem está nos escutando.
Mais uma coisa: a voz de João Batista não é uma entre as muitas; assumiu uma posição clara, fez a escolha do contexto, que fala muito mais forte de que o próprio texto. O profeta escolheu o deserto, o “outro lado do Jordão”. Também cabe a nós escolher as periferias, o ponto de vista dos excluídos, o outro lado da história, lugar de onde levantar a voz e quebrar o silêncio e a submissão.
Uma voz corajosa pode abrir rachaduras, dúvidas, perguntas e despertar de consciências no sistema estabelecido e nas pessoas convencidas que esse é o melhor dos mundos possíveis.
Por essas fendas um brotinho nascerá e o homem novo fará ingresso, mais uma vez, na velha história de sempre.
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