
Vida e Missão neste chão
Tentando assumir os desafios e os sonhos das pessoas e da natureza que geme nas dores de um parto. Esse blog para partilhar a caminhada e levantar perguntas: o que significa missão hoje? Onde mora Deus?
Vamos dialogar sobre isso. Forte abraço! E-mail: padredario@gmail.com; Twitter: @dariocombo; Foto: Marcelo Cruz
martedì 31 maggio 2011
A morte e a morte de quem berra para viver

venerdì 22 aprile 2011
Fragmentos de ressurreição

A cada dia nossa comunidade missionária procura sinais da ressurreição, dispersos em fragmentos no meio de muita luta, várias derrotas e um certo sentimento de impotência.
Os próprios discípulos demoraram para compreender e assumir a ressurreição de Jesus, precisando coletar uma série de numerosos sinais e testemunhos.
Fiquei me perguntando muito: nesse ano, que testemunho de ressurreição nossa comunidade pode oferecer? Temos uma palavra de esperança, uma mensagem fecunda e concreta para partilhar?
Nossa forma de testemunhar a ressurreição depende muito do tipo de mortes que estamos experimentando. A pior delas é a morte do sonho coletivo, derrotado pelo interesse instantâneo de pequenos ganhos individuais.
É a morte política de quem desiste de olhar para longe e se deixa comprar ou convencer por soluções imediatas e baratas, convenientes só por um momento. Quando nessa região chegaram de uma vez empresas ricas, vorazes e determinadas a investir nos recursos de nossa terra, foi difícil para o povo resistir à tentação das ‘continhas coloridas’ que elas prometem para o imediato. E assim mineradoras, indústrias de celulose e grandes investidoras em hidroelétricas trouxeram fortes impactos a custo de pequenos projetos sociais, pontuais, descontínuos e mal negociados com o povo.
Para nós, então, acontece ressurreição todas as vezes que há uma revolta contra essa dependência e, apesar de continuar desproporcional, levanta-se a voz das comunidades e garantem-se seus direitos e sonhos. Com uma imagem bíblica, há ressurreição para nós todas as vezes em que encontramos uma daquelas cinco pedrinhas que permitiram ao pequeno Davi derrubar (ou pelo menos estontear por um momento) o gigante Golias.
De fato, se isso se repetir várias vezes, os ‘gigantes’ de hoje irão aos poucos perceber que não se pode pisar nos territórios sem uma séria e efetiva interação com as populações que os habitam.
Cinco pedrinhas, dizíamos:
- uma foi participar à assembléia dos acionistas da Vale, como acionistas minoritários e representantes das comunidades impactadas. No meio da lógica exclusiva do lucro sem condições, está se levantando cada vez mais forte a voz de quem denuncia os impactos sócio-ambientais e exige respeito para os pequenos;
- outra é a perspectiva de recebermos em setembro, em Açailândia, a Romaria da Terra e das Águas, evento em nível de Maranhão inteiro que vai trazer milhares de romeiros e uma igreja vigilante e corajosa, para criticar um modelo de desenvolvimento ‘de mão única’, onde o lucro é privado e os impactos públicos;
- outra é a missão no Maranhão, em maio, da Federação Internacional dos Direitos Humanos, que estudou os impactos da Vale em dois casos pontuais de nossa região e apóia a reivindicação do povo: prioridade absoluta e condição primária para um real desenvolvimento é o direito à vida, à saúde, à moradia digna;
- mais uma encontra-se nos vários momentos de articulação das comunidades atingidas: está se fortalecendo uma rede de grupos e pequenas comunidades que trocam entre si experiências, estratégias, suporte e solidariedade. As empresas tendem a dividir o povo para enfraquecê-lo, esse diálogo entre movimentos fortalece a resistência;
- uma última é o sucesso de ações judiciais ou populares que finalmente obrigam as empresas a atender os interesses do povo: a greve dos trabalhadores siderúrgicos e dos moradores atingidos por poluição, a indenização de uma família vítima de atropelamento pelo trem da mineradora Vale, a condenação da mesma empresa a indenizar quase 800 famílias quilombolas impactadas por um mineroduto...
Esses são nossos fragmentos de ressurreição; acrescentamo-los humildemente aos outros que vocês, que estão lendo, poderão trazer nesse mosaico da vida do povo de Deus, mais forte do que a morte que quer se instalar no meio de nós!
mercoledì 16 febbraio 2011
Pressão popular vence a resistência de empresas siderúrgicas

“O pouco com Deus é muito” – comentavam alguns manifestantes na porta da Viena Siderúrgica S.A., Açailândia/MA, na primeira noite do protesto.
Eram trabalhadores e moradores atingidos pela poluição, unidos em suas reivindicações.
Pouca era a consideração que as empresas até hoje davam para eles. Muita era a raiva, muitas foram as pessoas que se juntaram, grande é a força dessa aliança entre a causa trabalhista e a sócio-ambiental, ambas em defesa de uma vida digna.
Às empresas siderúrgicas e à Vale S.A., protagonista do Programa Grande Carajás, poderia se atribuir nesses mais de vinte anos a responsabilidade direta pelo desmatamento, pelo estímulo ao trabalho escravo, pela poluição do ar, do solo e da água, pela exploração dos trabalhadores metalúrgicos, pela concentração de terras e pela aniquilação das formas de subsistência de muitas famílias camponesas da região. Ainda hoje muito dessa violência, efeito colateral do progresso e da ganância, acontece à luz do dia.
O povoado de Piquiá de Baixo é um exemplo evidente das contradições do desenvolvimento: mais de trezentas famílias cercadas e afetadas por empreendimentos altamente poluidores, ainda sem nenhum filtro ou tecnologias para minimizar o impacto ao meio-ambiente e à saúde. Os empregados da Viena Siderúrgica S.A. são outras vítimas: desde a crise de 2008, quem vem pagando (com desemprego, redução de salário ou turnos pesados e prolongados) são os trabalhadores. Enquanto isso, em outubro de 2010 a Viena siderúrgica esbanjava dividendos, tendo anunciado publicamente a distribuição a seus acionistas de mais de 7 milhões de reais, com base nos lucros acumulados em 2009!
O lucro é de poucos, o prejuízo fica para muitos!
Trabalhadores e moradores há vários meses esperavam por respostas das empresas que nunca vinham, mesmo com a intervenção do Ministério Público e de outros órgãos. Não restou alternativa senão valer-se de seu direito de greve e de manifestação pacífica e organizada.
O levante popular, iniciado na madrugada de segunda-feira, 14 de fevereiro, prosseguiu ao longo de 42 horas. Pouco a pouco, o grupo inicial de algumas dezenas de pessoas foi se transformando em uma pequena multidão.
Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos, a empresa, por sua vez, aterrorizava e seqüestrava trabalhadores dispostos a aderir à greve, impedindo-os de descer dos ônibus, ao mesmo tempo em que supervisores eram vistos entrando e saindo da empresa em carros de passeio em busca de trabalhadores em folga ou ainda oriundos de outros setores da indústria, como o da construção civil. Para as empresas, tudo parece ser aceitável, desde que não cause a interrupção da produção e do fluxo de capital e/ou não macule a sua imagem perante a opinião pública.
A intransigência do SIFEMA (Sindicato das Indústrias de Ferro-Gusa do Maranhão) e da diretoria da Viena em dar atenção aos manifestantes obrigou-os a intensificar o protesto com o uso de barricadas, queima de pneus e bloqueio da estrada de acesso à empresa, pondo em risco a regularidade da produção e chamando a atenção imediata dos veículos de comunicação.
A negociação, portanto, foi convocada rapidamente para a tarde da terça-feira, 15 de fevereiro, com representantes do SIFEMA, Viena e Gusa Nordeste. Apesar das tentativas das empresas em dividi-los, os trabalhadores e moradores de Piquiá de Baixo permaneceram unidos e, ao final, conseguiram o que pleiteavam: retorno da escala de trabalho em 8 horas, retorno da cesta básica mensal, garantia de estabilidade no emprego aos trabalhadores que aderiram à greve e confirmação de aporte de recursos do SIFEMA para a compra do terreno para o reassentamento do povoado de Piquiá de Baixo.
O pouco com Deus é muito, mas ainda não suficiente: trabalhadores e moradores merecem garantias permanentes de trabalho digno, saúde, respeito ao meio ambiente com o controle das emissões poluentes e de tantos outros direitos ainda cotidianamente violados por essas empresas. A luta do povo de Açailândia continua!
mercoledì 2 febbraio 2011
Pobre Açailândia rica!
Meses atrás nossa cidade de Açailândia, no profundo interior do Maranhão, brilhava de orgulho: tinha sido indicada por uma conhecida revista nacional entre as seis cidades do Brasil que mais estão crescendo e prometendo para o futuro.
Nessa última semana, a transmissão televisiva mais assistida no domingo à noite apresentou outro rosto do Maranhão: atrasado, violento, impune. Destacou-se a vergonhosa condição dos detentos, tratados como animais.
Açailândia brilhou de novo, dessa vez de uma luz escura: um menino desaparecido há mais de ano, sem um serio inquérito policial, e o desespero de sua mãe; um fazendeiro suspeito de dois homicídios, há meses procurado pela polícia e denunciado pelos movimentos sociais da cidade, mas mesmo assim livre e impune.
Quem observar de fora, talvez não entenda um contraste desse: Açailândia é sinônimo de esplêndidas promessas de futuro e desenvolvimento... ou de injustiça e violência à ordem do dia?
Na realidade, trata-se de uma convivência necessária, que confirma a origem e o sustento da riqueza dessa cidade. O chamado progresso e o acúmulo de riqueza, aqui, se deram a partir de uma violência estrutural.
Em muitos casos, enriqueceu-se quem devastou a floresta, grilou as terras, fez uso de trabalho escravo, sonegou ou corrompeu.
Ainda hoje, pelo menos aqui, o poder dos ‘ricos’ é garantido por uma justiça seletiva, que protege com rigor e de maneira muito ágil o direito à propriedade, mas é muito mais tolerante com aqueles que torturam, escravizam ou até mandam matar.
Somos missionários e defensores de direitos humanos; se estamos aqui é para tomar posição contra o silêncio imposto, contra a aliança do poder econômico e político que em muitos casos controla nossa região e até a própria lei.
Até quando a justiça permanecerá refém de quem tem mais poder? Até quando o mito do desenvolvimento prometerá futuro para poucos pisando nas costas de muitos outros, silenciados pelo medo ou a necessidade de sobreviver?
As leis são para que as cumpram
os pobres.
As leis são feitas pelos ricos
para pôr um pouco de ordem à exploração
Os pobres são os únicos cumpridores de leis
da história
Quando os pobres fizerem as leis
Já não haverá ricos.
(Roque Dalton)
sabato 8 gennaio 2011
Um novo Deus para um novo ano
Vivemos tempos de morte e de medo em Açailândia. Nossa cidade parece atravessar, nesses meses, um de seus períodos mais críticos. Dezenas de postos de saúde estão fechados, profissionais da saúde foram demitidos ou fugiram por falta de pagamento. A violência cresce assustadoramente nas ruas. O desemprego, a insegurança e a incerteza do futuro ameaçam sãos e doentes...
Em contextos diferentes, o nome de Deus foi invocado em vão por pessoas de duvidosa fé. Recentemente, na Câmara Municipal, a população denunciava que “A saúde está na UTI” e uma vereadora tentou acalmar a multidão afirmando: “Deus vai resolver o problema de cada um de vocês”. Apelar para Deus quando as pessoas se omitem em cumprir com seus deveres é nomear o nome dEle em vão!
Na Assembleia Legislativa do Maranhão, para conformar os metalúrgicos demitidos e prometer que com novas minas tudo vai se resolver, o presidente do sindicato patronal disse que “Deus é maranhense e colocou minério em nossas terras”. Um secretário de estado acrescentou “Vamos pedir a Deus que dias melhores venham para o Maranhão”.
Acreditar ou vender a idéia de que Nosso Senhor chega para solucionar, como por um passe de mágica, todos os problemas que nós mesmos criamos, é algo escandaloso e revoltante. Utilizar o nome de Deus para conformar pessoas injustiçadas é pecado mortal. Deus, de fato, não pode ser manipulado e utilizado para justificar interesses pessoais ou de grupo, pisando na dignidade dos próprios irmãos e irmãs.
Já conhecemos esse filme. Na história, muitos ditadores têm utilizado o nome de Deus para poder impor com mais força a sua própria vontade. Chegou a hora de dar um basta a essas hipocrisias.
O novo ano que se abre seja tempo para falar menos de Deus e começar a agir, praticando o que Ele nos ensinou.
Temos vários desafios nos esperando. A Campanha da Fraternidade de 2011 é um grito de alarme contra as mudanças climáticas: de que adianta dizermo-nos cristãos, se nem sabemos cuidar da Terra, presente de Deus para todas as suas criaturas?!
Em setembro de 2011, Açailândia irá receber milhares de romeiros que visitarão Piquiá em ocasião da Romaria da Terra e das Águas. A igreja do Maranhão busca caminhos de vida no respeito da criação e das comunidades.
“Deus-conosco”, Emanuel, caminha com seu povo em busca dessa vida! Feliz 2011!
lunedì 13 dicembre 2010
O que era da Amazônia, o que será do Natal...

A gente vive numa das muitas “áreas de sacrifício” do dito desenvolvimento. Trata-se de dobraduras escondidas, onde o progresso acumula seus impactos menos elegantes...
Podem ser lixões, favelas que explodem por conta do êxodo rural em massa, bairros poluídos encostados nas usinas, onde máquinas e pessoas competem pelo acesso à água e ao ar...
Sabemos e sentimos que é esse o lugar dos missionários, enviados no meio dos pobres para fazer experiência e dar eco às contradições da história. Deus nasce menino, às periferias do Império romano, e renasce pequeno às margens desse ‘des-envolvimento’ desenfreado.
Deus pequeno, isto é, preocupado para com os ritmos lentos e resistentes de nossa gente: as famílias camponesas, as mulheres que coletam e trabalham os frutos da floresta, os pequenos produtores que a cada dia vendem suas mercadorias... esses são os pastores de hoje, aos quais é dada a boa-nova: uma criança nasceu PARA VOCÊS!
A igreja no Brasil, apesar de muitos limites, compreendeu o segredo do Natal que a cada ano se repete. Por isso, não põe o acento somente num nascimento especial, mas pela CF que está por vir aponta a todo o processo de criação que Deus colocou em nossas mãos e que Jesus nos desafia a renovar.
Enquanto o ‘des-envolvimento’ corre sem freios pelas linhas verticais da extração e exportação de recursos, a vida continua em círculos concêntricos e redes horizontais de relações, garantidas pelas comunidades em seus territórios e individualidades.
Celebrar o Natal, assim, significa acreditar teimosamente que Deus nasce onde ninguém sabe, longe dos holofotes e grandes projetos, nas comunidades ameaçadas pela concentração de terra, nas cooperativas que tentam reinventar a pequena produção, nas escolas-famílias agrícolas, nas festas populares de bairro ou na celebração anual da colheita.
A nova criação já começou, precisamos defendê-la e espalhar suas sementes em todos os campos. Nunca como hoje se faz necessário renascer do alto... para o baixo.
mercoledì 24 novembre 2010
A crise siderúrgica: fato ou boato?
